Ambiência https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br O que está em jogo na nossa relação com o planeta Fri, 03 Dec 2021 21:06:25 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Investidores de R$ 21,8 trilhões pedem que bancos ajam sobre clima e biodiversidade https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/07/06/investidores-de-r-218-trilhoes-pedem-que-bancos-ajam-sobre-clima-e-biodiversidade/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/07/06/investidores-de-r-218-trilhoes-pedem-que-bancos-ajam-sobre-clima-e-biodiversidade/#respond Wed, 07 Jul 2021 01:50:30 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/Nv6WNADC-320x215.jpeg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=968 Um grupo de 115 investidores internacionais enviou nesta terça (6) uma carta a 63 bancos globais pedindo medidas sobre clima e biodiversidade.

Os signatários – entre eles, os grupos Aviva Investors, Fidelity International, Federated Hermes e M&G Investments – representam US$4,2 trilhões (R$ 21,8 trilhões) em aplicações.

A carta, ao qual o blog teve acesso, pede que os bancos se comprometam a eliminar o financiamento ao carvão até 2030 nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e até 2040 no restante do mundo.

O grupo também quer políticas para setores de alto impacto ambiental e sugere um alinhamento de expectativas sobre a gestão de riscos ligados à biodiversidade e aos direitos humanos. A carta pede que os bancos enviem respostas até 15 de agosto.

Na esteira de cobranças de políticas do governo brasileiro para a Amazônia e de corte de investimentos em empresas ligadas a desmatamento, a carta marca mais um gesto do setor financeiro no sentido de incorporar critérios socioambientais na análise de riscos dos investimentos – influenciados tanto por ameaças físicas das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade quanto pela transição dos motores da economia global.

A carta destaca o papel da transição das energias fósseis para renováveis como principal estratégia para evitar as emissões de carbono, em vez de compensá-las com tecnologias de emissões negativas que, segundo o texto, devem receber “confiança mínima”.

O texto ainda pede que os bancos publiquem compromissos de curto prazo (cinco a dez anos) para clima e biodiversidade e considerem o risco climático em seus demonstrativos financeiros em todas as categorias de risco.

“Um grande banco internacional com uma presença geográfica significativa está exposto a uma série de riscos relacionados ao clima e à natureza, incluindo riscos físicos e de transição que podem ter um impacto significativo no valor dos ativos e passivos do banco. Como banco, você está em uma posição poderosa para conduzir a transição para o baixo carbono e enfrentar as piores consequências das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade”, diz a carta, enviada aos maiores bancos globais, incluindo JP Morgan Chase, Deutsche Bank, Standard Chartered, Santander, HSBC e Goldman Sachs.

A articulação é da campanha Share Action, que ganhou notoriedade após classificar os fundos de pensão britânicos a partir de critérios de investimentos responsáveis.

“Palavras calorosas sobre a importância da biodiversidade não são suficientes. Os investidores querem ações concretas agora, e os bancos que falharem em responder podem esperar sérios desafios em sua próxima assembleia geral anual”, afirma a coordenadora da campanha, Jeanne Martin.

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“Nenhum país vai dizer ao Brasil o que fazer com a Amazônia”, diz Al Gore https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/05/25/nenhum-pais-vai-dizer-ao-brasil-o-que-fazer-com-a-amazonia-diz-al-gore/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/05/25/nenhum-pais-vai-dizer-ao-brasil-o-que-fazer-com-a-amazonia-diz-al-gore/#respond Tue, 25 May 2021 19:53:39 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/15797024155e28588fdb8d2_1579702415_3x2_lg-320x215.jpg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=954 “O que acontece na Amazônia brasileira depende do Brasil. Nenhum outro país vai dizer ao Brasil ou aos seus líderes o que fazer, mas espero que todos aceitem suas responsabilidades no nosso esforço global para resolver a crise climática”, disse o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, em evento virtual voltado ao público empresarial brasileiro nesta terça-feira (25), realizado pelo banco Santander em parceria com o jornal Valor Econômico.

Sem fazer referências diretas ao governo Bolsonaro, Al Gore reforçou o valor da soberania nacional, destacada nos discursos do presidente brasileiro, antes de ressaltar a importância global do bioma.

“A Amazônia tem implicações críticas para o ciclo hidrológico global. Altos níveis de desmatamento na Amazônia já estão causando significativa redução das chuvas no Sul”, citou Al Gore, em resposta à pergunta do diplomata colombiano e ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, sobre as possibilidades de colaboração da comunidade internacional na área climática.

“O meu conselho, já que você perguntou, é que os líderes, no Brasil ou em outros lugares do mundo, considerem os territórios e as comunidades tradicionais ou indígenas ao desenvolver suas políticas climáticas e de biodiversidade. Eles protegem a biodiversidade mundial há gerações e é importante que tenham um lugar na mesa na tomada de decisão”, concluiu.

O americano contou ter recebido com otimismo as novas metas climáticas do Brasil, anunciadas pelo presidente Bolsonaro na Cúpula do Clima, organizada pelos Estados Unidos no último mês.

“Os Estados Unidos e o Brasil têm oportunidade de trabalhar juntos pelo clima, especialmente no momento em que o mundo se reconstrói economicamente após a pandemia”, afirmou.

Al Gore também disse estar orgulhoso da gestão Biden pela prioridade dada à pauta climática. “Não há substituto para o papel de liderança global dos EUA nessa questão”, disse em referência à responsabilidade histórica do país pelas emissões de gases-estufa.

Após ter sido vice-presidente da gestão Clinton de 1993 até 2000, ano em que disputou a presidência e perdeu para Bush em polêmica contagem dos votos, Al Gore se tornou uma das vozes mais importantes da questão climática no mundo.

Em 2007, venceu o Oscar de melhor documentário com o filme Uma verdade inconveniente. No mesmo ano, dividiu o prêmio Nobel da Paz com o painel científico da ONU sobre mudanças climáticas, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas).

“Um estudo recente mostrou que proteger 30% da biodiversidade global em áreas marítimas e terrestres aumentaria o retorno econômico em uma média de US$ 250 bilhões (R$ 1,3 trilhão)”, defendeu Al Gore na palestra, que também citou a necessidade de colocar um preço no carbono, com iniciativas como o mercado de créditos de emissão de carbono.

Em um discurso recheado de dados sobre as oportunidades econômicas do que ele chama de revolução sustentável, o americano citou os investimentos ESG (com critérios ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) como uma tendência que era alternativa e já se tornou convencional.

Ele também afirmou que o Brasil é líder global na transição para fontes de energias renováveis, com os custos mais baixos do mundo para a implantação de energia eólica. “Hoje investir em uma nova planta de eólica no Brasil é mais barato do que manter uma termelétrica a carvão em operação”, afirmou.

Ao argumentar sobre a tendência de aumento dos investimentos em soluções climáticas, movimento que ele considera irreversível, citou como exemplo a resistência de setores da sociedade americana que se organizaram para persistir nos compromissos climáticos durante o governo Trump, contrário à agenda.

“Mesmo na ausência de liderança federal nos Estados Unidos nos quatro últimos anos, uma coalizão de empresas e governos estaduais e locais formaram o We are still in (“nós ainda estamos dentro) e se comprometeram com o progresso das metas climáticas”.

O movimento também inspirou reações brasileiras desde a eleição de Bolsonaro, em 2018, quando o ambientalista Alfredo Sirkis – que também representava as ações de Al Gore no Brasil até seu falecimento, no ano passado – passou a reunir os governadores estaduais em torno de compromissos com a agenda climática, em contraposição ao afrouxamento das políticas ambientais em curso no governo federal.

Al Gore e Bolsonaro se encontraram no início do ano passado durante o fórum econômico de Davos. O momento, registrado pelo filme O Fórum, mostra Al Gore afirmando ser um grande amigo de Sirkis e dizendo que estão todos preocupados com a Amazônia. Bolsonaro responde que foi um inimigo de Sirkis e que gostaria de explorar a Amazônia junto com os Estados Unidos.

“Eu não entendi o que você quer dizer”, respondeu Al Gore, em uma cena que se popularizou nas mídias sociais e foi recebida pelo público como um momento constrangedor para o governo brasileiro.

 

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O dia depois de amanhã deve ter um preço para o carbono https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/04/22/o-dia-depois-de-amanha-deve-ter-um-preco-para-o-carbono/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/04/22/o-dia-depois-de-amanha-deve-ter-um-preco-para-o-carbono/#respond Thu, 22 Apr 2021 23:24:13 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/Folhapress-320x215.jpg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=933 Os anúncios dos Estados Unidos, União Europeia, Japão e Canadá de que devem cortar cerca de metade das suas emissões de carbono até 2030 sinalizam ao mundo uma guinada na trajetória do clima global. As lições de casa dos países para que isso aconteça, no entanto, devem ser drásticas e começam literalmente no dia depois de amanhã.

Assim que for encerrada a Cúpula do Clima, na sexta (23), o restante do mundo já deve começar a cobrar dos países desenvolvidos os meios de implementação para a transição energética, que eles prometem financiar.

A coerência dos países ricos também será mais fiscalizada. O que antes era uma ponte avançada entre a política climática e as relações comerciais, passa agora a ser cobrado como um item básico do compromisso com o clima: o comércio global deve ser condicionado a critérios de sustentabilidade.

Para entender o anúncio das nações mais desenvolvidas do mundo, é preciso enxergar a estratégia geopolítica da pauta climática, sem reduzi-la a filantropia, publicidade ou reputação. O que a Cúpula do Clima aponta é uma reconfiguração da agenda global, em que o carbono se encaixa entre os eixos centrais.

É com essa movimentação que a desconfiança global, que pautava anúncios de metas tímidas e duvidosas no último dezembro, dá lugar à confiança para os compromissos de cortar as emissões pela metade até 2030, mesmo que a China se mantenha firme na posição de atingir o pico das suas emissões somente no fim da década.

Biden certamente não prevê ser atropelado por um crescimento chinês baseado em energias fósseis. O plano é torná-las inviáveis, deixando em atraso os países que optam por adiar a transição.

Se, por um lado, não há previsão de sanções comerciais por questões ambientais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), os acordos bilaterais oferecem um caminho mais provável para que os países ricos associem suas metas climáticas à taxação de carbono, inibindo a importação de produtos ligados a combustíveis fósseis ou a desmatamento.

Além de desencadear a tendência da economia de baixo carbono no resto do mundo, a medida impediria a responsabilização desses países por emissões de carbono ‘compradas’ no exterior.

Embora a palavra “taxação” possa assustar um mercado global ainda dependente de energias fósseis, esse direcionamento pode ser fundamental para uma retomada econômica irrigada pelo desafio climático e que pode ganhar escalas para novos padrões até 2030.

Ela também pode ser o ‘chicote’ necessário para evitar uma espécie de “queima de estoque” promovida pelos setores dos combustíveis fósseis nos territórios onde eles seguirão liberados, especialmente em economias emergentes, como China, Rússia, Índia e Brasil.

Neste cenário, o Brasil ficará prejudicado até o fim de 2022, já que o projeto antiambiental do governo Bolsonaro ainda vai falar mais alto ao mundo do a nova encenação discursiva.

A chance de o país recuperar seu protagonismo ambiental nos próximos anos fica por conta da capacidade de outros atores – como empresas, ONGS, universidades e governos locais – para articular parcerias diretas com as fontes de financiamento nos Estados Unidos e na Europa. Uma saída resiliente que foi usada pelos americanos nos anos Trump e tem sido testada desde a eleição de Bolsonaro por aqui.

Botar um preço no carbono também implica na oferta de cenouras, tanto com incentivos fiscais aos setores menos poluentes, como pela valorização desses investimentos no mercado financeiro.

Se o carbono jogado na atmosfera vira um custo, os gases capturados de volta para o solo podem ser ativos negociados como títulos verdes no mercado. A busca de títulos sustentáveis, assim como o uso dos critérios ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) e ainda a inclusão dos riscos climáticos na avaliação dos investimentos consolida no mundo financeiro uma visão bastante pragmática sobre as mudanças climáticas, cujo avanço gera incertezas incompatíveis com a busca de retorno financeiro.

Com a aproximação dos prazos e dos limites planetários, a conservação ambiental se revela garantidora do crescimento econômico, em vez de uma limitante. A alavanca deste momento para a economia global pode estar justamente na mobilização de recursos para fazer frente ao desafio climático.

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Dalai Lama e 100 vencedores do Nobel pedem fim do petróleo, carvão e gás https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/04/21/dalai-lama-e-100-vencedores-do-nobel-pedem-fim-do-petroleo-carvao-e-gas/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/04/21/dalai-lama-e-100-vencedores-do-nobel-pedem-fim-do-petroleo-carvao-e-gas/#respond Wed, 21 Apr 2021 13:01:30 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/WhatsApp-Image-2019-09-20-at-17.14.13-1-320x215.jpeg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=928 Em carta aberta aos líderes globais que se reúnem na quinta (22) na Cúpula do Clima, organizada de forma online pelos Estados Unidos, 101 ganhadores de prêmios Nobel pedem que os compromissos anunciados pelos países incluam ações para o fim da expansão dos combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás, que são a principal fonte de gases causadores do aquecimento global.

Entre os signatários da carta estão Dalai Lama, ganhador do Nobel da Paz em 1989, Muhammad Yunus, fundador do Grameen Bank e ganhador do Nobel da Paz em 2006, Rigoberta Menchú Tum, ativista pelos direitos humanos na Guatemala e ganhadora do Nobel da Paz em 1992, e Adolfo Pérez Esquivel, ativista argentino pelos direitos humanos e ganhador do Nobel da Paz em 1980.

“A indústria de combustíveis fósseis segue planejando novos projetos, que os bancos continuam a financiar. De acordo com o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, até 2030 serão produzidos 120% a mais de carvão, petróleo e gás do que é compatível com a limitação do aquecimento global a 1,5°C”, diz a carta, que pede o fim da expansão dos combustíveis fósseis, a eliminação da produção existente e um plano de transição global para energias renováveis.

As assinaturas dos prêmios Nobel foram articuladas pela iniciativa Tratado de Não-Proliferação de Combustíveis Fósseis, com o apoio de 350.org e outras ONGs.

Leia abaixo a íntegra da carta.

Declaração dos ganhadores do Prêmio Nobel aos líderes mundiais participantes da Cúpula do Clima

Deixem os combustíveis fósseis debaixo da terra

Como ganhadores do Prêmio Nobel da Paz, Literatura, Medicina, Física e Economia, e assim como tantas pessoas no mundo inteiro, nos sentimos tomados pela grande questão moral do nosso tempo: a crise climática e a consequente destruição da natureza.

As mudanças climáticas ameaçam centenas de milhões de vidas, assim como os meios de subsistência em todos os continentes, e põem em perigo milhares de espécies. A queima de combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás – é, de longe, a principal causa para a mudança climática.

Neste 21 de abril, véspera do Dia da Terra e da Cúpula do Clima, organizada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nos dirigimos aos líderes mundiais para instá-los a agir imediatamente para frear a expansão do petróleo, gás e carvão e, assim, evitar uma catástrofe climática.

Acolhemos o reconhecimento do Presidente Biden e do governo dos EUA, em sua Ordem Executiva, de que “juntos, devemos ouvir a ciência e estar à altura do atual momento”. De fato, estar à altura deste momento significa exigir respostas à crise climática que definirão nossos legados – e os requisitos para estar do lado certo da História são claros.

Por muito tempo, os governos ficaram escandalosamente aquém do que a ciência exige e do que um movimento popular poderoso e crescente já sabe: precisamos urgentemente de ações para pôr fim à expansão da produção de combustíveis fósseis, eliminar gradualmente a produção já instalada e investir em energias renováveis.

A queima de combustíveis fósseis é responsável por quase 80% das emissões de dióxido de carbono desde a Revolução Industrial. Além de esses combustíveis serem as principais fontes de emissões, seu processo de extração, refino, transporte e queima provoca poluição e eleva os custos ambientais e de saúde, que são, muitas vezes, pagos pelos povos indígenas e pelas comunidades marginalizadas. Práticas industriais chocantes também levaram a violações dos direitos humanos e a um sistema atrelado aos combustíveis fósseis que deixou bilhões de pessoas em todo o mundo sem energia suficiente para viver dignamente.

Tanto pelas pessoas quanto pelo planeta, é necessário apoiar continuamente os esforços para enfrentar as mudanças climáticas, por meio da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e do Acordo de Paris. O descumprimento do limite de aumento de temperatura definido no Acordo de Paris, de 1,5°C, traz o risco de que o mundo seja empurrado rumo a um aquecimento global catastrófico.

Entretanto, o Acordo de Paris não menciona petróleo, gás ou carvão. Enquanto isso, a indústria de combustíveis fósseis segue planejando novos projetos, que os bancos continuam a financiar. De acordo com o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, até 2030 serão produzidos 120% a mais de carvão, petróleo e gás do que é compatível com a limitação do aquecimento global a 1,5°C. Os esforços para respeitar o Acordo de Paris e reduzir a demanda por combustíveis fósseis serão prejudicados se a oferta continuar a crescer.

A solução é clara: os combustíveis fósseis têm que ficar debaixo da terra.

Os líderes globais, e não a indústria de combustíveis fósseis, detêm o poder e a responsabilidade moral de tomar ações ousadas para enfrentar esta crise. Apelamos a essas lideranças para que trabalhem juntas, em espírito de cooperação, com o objetivo de:

● Acabar com a expansão da produção de petróleo, gás e carvão, em linha com os melhores dados científicos disponíveis, conforme definido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA);

● Eliminar a produção existente de petróleo, gás e carvão de uma maneira justa e equitativa, considerando as responsabilidades dos países pelas mudanças climáticas, sua respectiva dependência de combustíveis fósseis e sua capacidade de transição;

● Investir em um plano de transição que garanta 100% de acesso à energia renovável globalmente, apoie as economias dependentes para que diversifiquem sua produção e se afastem dos combustíveis fósseis e possibilite às pessoas e comunidades de todo o mundo prosperarem por meio de uma transição global justa.

Os combustíveis fósseis são a principal causa das mudanças climáticas. Permitir a expansão contínua desse setor é inaceitável. O sistema de combustíveis fósseis é global e requer uma solução global – uma solução em que a Cúpula dos Líderes do Clima deve trabalhar. E o primeiro passo consiste em manter os combustíveis fósseis debaixo da terra.

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Rigoberta Menchú Tum, K’iche’ Guatemalan human rights activist, Nobel Peace Prize, 1992
José Manuel Ramos-Horta, Former President of East Timor, Nobel Peace Prize, 1996
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Biden deve barrar importação que desmata a Amazônia, diz plano de ex-oficiais https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/01/29/biden-deve-barrar-importacao-que-desmata-a-amazonia-diz-plano-de-ex-oficiais/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/01/29/biden-deve-barrar-importacao-que-desmata-a-amazonia-diz-plano-de-ex-oficiais/#respond Fri, 29 Jan 2021 22:31:48 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/15693654095d8a9da1b6cda_1569365409_3x2_md.jpg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=891 Um grupo formado por ex-oficiais do governo americano e ex-negociadores-chefes de mudanças climáticas dos Estados Unidos divulgou nesta sexta-feira (29) um plano que deve nortear a política climática do governo Biden.

O documento, entregue na terça (26) à presidência americana e ao enviado especial de clima, John Kerry, apresenta quatro eixos. Dois deles já haviam sido anunciados por Biden: a mobilização de fundos públicos e privados para a conservação de florestas tropicais e a diplomacia ‘robusta’, já em articulação desde a nomeação de Kerry.

Os outros dois eixos apontam para a regulação da importação de commodities com risco de desmatamento, através de regras para o comércio e de transparência das cadeias de fornecimento.

Entre as recomendações, estão a proibição da importação de commodities agrícolas cultivadas em áreas desmatadas ilegalmente, a execução de atos contra prática de corrupção no estrangeiro e o fortalecimento de critérios de governança para florestas tropicais em futuros acordos comerciais.

O plano também aconselha a administração de Biden a obrigar que empresas americanas prestem contas sobre suas cadeias de fornecimento, revelando dados que permitam rastrear e administrar o risco de ligação com o desmatamento.

As medidas voltadas a “harmonizar as políticas comerciais dos Estados Unidos com a política climática para a Amazônia”, como afirma o plano, alinham-se a políticas propostas pela União Europeia, no âmbito do acordo comercial com o Mercosul, e do Reino Unido, que tramita uma legislação semelhante para barrar importações ligadas a desmatamento.

No entanto, a abordagem frustra expectativas do governo brasileiro. A aposta do alto escalão do Ministério da Agricultura era de que os Estados Unidos manteriam as pautas separadas, como mostrou o blog na última semana.

O plano entregue a Biden também faz recomendações específicas sobre a relação dos Estados Unidos com o governo brasileiro.

“A administração deve atuar de forma decisiva para reduzir a demanda global por bens que impulsionam o desmatamento ilegal e danos ao clima. É legítimo e razoável considerar o desempenho do Brasil em relação a essas prioridades ao se ponderar sobre políticas dos Estados Unidos relacionadas ao Brasil, incluindo a adesão à OCDE, futuras vendas militares, novos acordos comerciais e mais. A administração também pode se envolver de forma construtiva com governos subnacionais brasileiros, empresas e sociedade civil, de acordo com os Estados Unidos e a legislação brasileira”, diz o documento.

Ainda que tenha sido enviado como uma sugestão externa, o plano já foi elogiado por líderes europeus – como os ministros de meio ambiente da Alemanha e da Noruega – e é visto como o primeiro desenho da política climática de Biden. Isso porque o documento é assinado por nomes de grande influência em Washington e que lideraram políticas climáticas tanto em governos republicanos quanto em democratas. Em carta, eles também prometem ajudar o novo presidente a viabilizar as propostas através de articulações com o Congresso americano.

Assinam o documento Todd Stern, negociador-chefe do governo Obama para mudanças climáticas no Acordo de Paris e negociador sênior no governo Clinton no Protocolo de Kyoto; Tim Wirth, subsecretário de Estado para Assuntos Globais no governo Clinton, negociador-chefe para mudanças climáticas no Protocolo de Kyoto;
William Reilly, chefe da Agência de Proteção Ambiental no governo Bush, ex-presidente do World Wildlife Fund; Bruce Babbitt, ex-secretário do Interior no governo Clinton; Christine Whitman, chefe da Agência de Proteção Ambiental no governo Bush; Stuart Eizenstat, ex-embaixador na União Europeia; Frank Loy, subsecretário de Estado para Assuntos Globais e negociador-chefe para mudanças climáticas no governo Clinton (1998-2001).

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Fundo estrangeiro rebate Mourão, vê diálogo ‘vazio’ e cobra política ambiental https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/01/27/fundo-estrangeiro-rebate-mourao-ve-dialogo-vazio-e-cobra-politica-ambiental/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/01/27/fundo-estrangeiro-rebate-mourao-ve-dialogo-vazio-e-cobra-politica-ambiental/#respond Wed, 27 Jan 2021 22:16:05 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/mourao-320x215.jpg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=884 “O setor privado sozinho não vai resolver os desafios climáticos”, afirma Eric Pedersen, diretor de investimentos responsáveis do Nordea Asset Management, fundo dos países escandinavos – Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia.

“Os governos, no mínimo, devem fornecer uma estrutura regulatória para encorajar práticas corporativas sustentáveis”, ele pontua.

Em entrevista ao blog, Pedersen rebateu as afirmações feitas pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que se pronunciou nesta quarta (27) durante o Fórum Econômico Mundial.

“É crucial que o setor privado tome a dianteira no financiamento de pesquisas e programas científicos para a região. Governos, especialmente no cenário de economia pós-pandêmica, não terão superávits disponíveis para direcionar grandes quantias para este tipo de atividades”, disse o vice-presidente no painel “Financiando a transição da Amazônia para uma bioeconomia sustentável”.

Segundo Pedersen, somente a aplicação robusta e consequente de políticas sociais e ambientais “garantirão acesso eficiente e sustentável aos mercados financeiros no longo prazo”.

“Políticas de combate ao desmatamento e proteção aos direitos humanos, com consequências reais para os atores econômicos que não as cumprem, são fundamentais para o gerenciamento dos riscos financeiros enfrentados pelos investidores que agem de boa fé”, conclui o diretor do Nordea.

O fundo dos países escandinavos está presente em 19 países e administrou em 2019 o total de € 554,8 bilhões (R$ 2,9 trilhões).

Desde que o governo Bolsonaro passou a flexibilizar as políticas de controle ambiental, ainda em 2019, o fundo deixou de adquirir títulos da dívida soberana do país e mantém em quarentena os ativos adquiridos anteriormente.

No entanto, após mais de seis meses de diálogo direto com Mourão sem resultados práticos no controle do desmatamento, os investidores passaram a expressar cansaço e descrença.

“Se esse é um diálogo que pode seguir eternamente sem haver consequência, ele se torna vazio”, afirma Pedersen. “Nós não vamos seguir assim indefinidamente se não vermos nenhum progresso”.

Em 2020, o desmatamento na Amazônia subiu 9,5% em relação ao ano anterior, quando já havia batido um recorde, tendo disparado em 34% na transição dos governos Temer e Bolsonaro. Ao longo do último ano, nenhuma nova multa ambiental foi cobrada pelo governo federal.

Além do fundo Nordea, outros 34 fundos de investimento, representando mais de US$4,6 trilhões (R$ 24,8 trilhões) têm cobrado conjuntamente o governo brasileiro pelos resultados ambientais, sob coordenação do Storebrand Asset Management. A iniciativa deve buscar diálogo com outros países com desafios no controle do desmatamento, como a Indonésia.

Os investidores citam a proximidade do ponto de não-retorno no desmatamento na Amazônia, alertado por cientistas, e frisam que a preocupação é com o risco financeiro. “Se a gestão dos recursos naturais é tal que talvez em 20, 30 anos tudo vai virar pó, isso pode ameaçar a capacidade de um país pagar a dívida”, afirma Pedersen.

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Salles omite inventário de emissões de gases-estufa e quer alterar dados do agro https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2020/10/22/salles-omite-inventario-de-emissoes-de-gases-estufa-e-quer-alterar-dados-do-agro/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2020/10/22/salles-omite-inventario-de-emissoes-de-gases-estufa-e-quer-alterar-dados-do-agro/#respond Thu, 22 Oct 2020 21:47:23 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/salles-150x150.jpg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=849 O 4º inventário de emissões de gases-estufa do Brasil está pronto e o país tem a obrigação de apresentá-lo à ONU até dezembro.

No entanto, em reunião do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM), nessa quarta-feira (21), o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) omitiu a apresentação do documento e propôs adiar seu envio à ONU. A Folha apurou que o tempo ganho deve ser usado para alterar dados do setor agropecuário.

O atraso proposto por Salles implica em descumprimento do compromisso assumido pelo país na Convenção de Mudanças Climáticas da ONU – criada no Brasil em 1992.

Os países-membro da Convenção devem reportar a atualização das emissões de gases-estufa geradas ou removidas da atmosfera a cada quatro anos, o que permite à comunidade internacional calcular as projeções sobre o aquecimento global.

Os nove ministérios que compõem o comitê devem validar o inventário antes do reporte à ONU, mas Salles sinalizou que deve privá-los do documento, dizendo que “a data de divulgação será informada pela secretaria-executiva do comitê” – cargo ocupado por ele.

Apoiada por Braga Netto (Casa Civil), a fala de Salles teria incomodado Paulo Guedes (Economia) e Tereza Cristina (Agricultura), segundo fontes do governo.

A reunião foi iniciada apenas com ministros na sala. Salles teria barrado a entrada de assessores técnicos e até mesmo de Julio Semeghini, secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), que deixou o cargo no mesmo dia. Segundo o decreto de criação do comitê, os secretário-executivos podem representar os ministros nas reuniões.

O MCTI é responsável pela elaboração do inventário, que contou com financiamento de US$ 7,5 milhões (R$ 41,2 milhões) do Green Environmental Facility (GEF) e implementação do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD).

O 4º inventário revisa os cálculos das emissões de gases-estufa desde 1990 e inclui novos dados de 2011 a 2016 – o período acrescentado é de estabilização das emissões brasileiras. O que incomoda Salles, no entanto, é a atribuição de emissões ao setor agropecuário.

Segundo fontes de três ministérios, Salles propõe passar emissões da agropecuária para outra categoria, chamada de mudança do uso do solo e florestas, onde já se contabiliza as emissões por desmatamento.

Ainda na proposta do ministro, atividades que contribuem para retirar carbono da atmosfera – como a recuperação de pastagens degradadas – deixariam de ser contabilizadas como mudança do uso do solo, passando a contar como pontos positivos para o setor agropecuário.

A manobra não altera a conta final sobre a contribuição do país para as emissões globais, buscando apenas melhorar os resultados do setor agropecuário.

A trama foi descrita por especialistas como “infantil” e “tempestade em copo d’água”, já que os dois setores são vistos pela comunidade internacional como uma mesma fonte de emissões.

Os números do setor também foram alterados por um outro artifício, usado em outro relatório: a atualização bienal das emissões (2018-2019), cujo reporte à ONU também é obrigatório desde 2014.

Sob responsabilidade do Itamaraty, o relatório de atualização bienal (BUR, na sigla em inglês), foi elaborado com base em diretrizes de 1996. Mas desde 2006 o IPCC (painel científico da ONU sobre mudanças climáticas) usa um padrão mais rigoroso.

O novo padrão considera fontes de emissões da agropecuária que antes não era contabilizadas – como resíduos de pastagens reformadas e do processamento de cana-de-açúcar – e também aperfeiçoa a contabilidade das emissões geradas por diferentes tipos de rebanhos – cujas emissões são maiores do que se imaginava pelo padrão anterior.

A mudança de método gera um salto de 20% nas emissões do setor agropecuário, segundo Ciniro Costa Junior, engenheiro da equipe de clima e cadeias agropecuárias do Imaflora e um dos autores do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases-Estufa). O Seeg acompanha e evolução de método do inventário, atualizando seus dados para anos mais recentes.

O setor agropecuário, que respondia pela emissão anual de cerca de 500 milhões de toneladas de carbono em 2018, segundo o padrão antigo, deve figurar com cerca de 600 milhões de toneladas em 2019, por conta do novo método.

A reunião do comitê conduzido por Salles aprovou o relatório bienal, que usa o padrão ultrapassado, e omitiu o 4º inventário, que foi elaborado segundo o padrão atual.

Segundo especialistas, o uso de padrões diferentes em cada relatório gera incoerências que não devem passar despercebidas.

Para eles, além do descumprimento dos compromissos internacionais, a preocupação é também sobre a perda de credibilidade dos documentos brasileiros na comunidade internacional.

Procurado, o ministro Ricardo Salles não retornou ao contato da reportagem.

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Brasileiros ainda não têm educação climática, diz jovem ativista https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2019/03/15/brasileiros-ainda-nao-tem-educacao-climatica-diz-jovem-ativista/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2019/03/15/brasileiros-ainda-nao-tem-educacao-climatica-diz-jovem-ativista/#respond Fri, 15 Mar 2019 12:33:59 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/engajamundo-320x215.png http://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=189 “Para que estudar se não há futuro?” A questão que levou a estudante sueca Greta Thunberg, 16, a faltar às aulas em protesto contra a crise climática, há menos de um ano, ganha proporções globais nesta sexta (15), com uma greve puxada por estudantes em centenas de cidades de todos os continentes.

No Brasil, as ameaças ao futuro dos estudantes se mostram de curtíssimo prazo. A violência cotidiana, para além de episódios chocantes como o massacre de Suzano, figura entre os desafios mais urgentes. No entanto, isso também não tem gerado manifestações estudantis por aqui.

O pano de fundo da inação pode ser comum às diversas crises e um velho conhecido: a falta de investimento em educação.

“O nosso país não tem nenhuma política educacional sobre clima aplicada nas nossas escolas, os nossos jovens não são formados sobre a importância de falar sobre o tema, e acima de tudo, são minados todos os momentos dos seus direitos de manifestação e pensamento crítico”, afirma o cientista social Iago Hairon, de 25 anos. Ele também é um dos coordenadores da ONG Engajamundo, que tem mobilizado jovens brasileiros para participar das conferências climáticas da ONU.

A falta de educação climática no Brasil pode ajudar a explicar como o papel do aquecimento global passa despercebido pelo debate público sobre a intensificação de eventos extremos como as tempestades, enxurradas e enchentes – que provocaram 13 mortes em apenas um dia em São Paulo, na noite do último domingo (10).

Enquanto o engajamento brasileiro com a greve do clima só começou a aparecer na última semana e, ainda assim, conseguiu marcar 24 protestos na agenda do movimento Fridays for Future (Sextas pelo Futuro, em tradução livre), a greve pelo clima já tem protestos mensais ou até semanais nos países europeus e deve continuar sendo convocada após esta sexta.

“Se jovens e crianças hoje tomam as ruas na Europa é porque há alguns anos governos como o da Suécia, Dinamarca, Alemanha e França começaram a fazer alguns poucos esforços em educação climática, resultando em um maior entendimento sobre o tema”, afirma Hairon.

Segundo ele, a Política Nacional de Educação Ambiental, aprovada em 1999, “foi deixada de lado e não representou uma área estratégica para nenhum governo, travando a educação ambiental e climática nas escolas”.

Confira os principais protestos marcados nas capitais brasileiras.

Brasília
Horário: 16h30
Local: STF

São Paulo
Horário: 12h
Local: MASP

Rio de Janeiro
Horário: das 08h às 09h
Local: Em frente à Prefeitura Municipal – Rua Afonso Cavalcanti, 455, Cidade Nova – Rio de Janeiro/RJ

Belo Horizonte
Encontro de estudantes no Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH) para discussão sobre mudança do clima
Horário: das 20h às 21h
Local: Av. Prof. Mário Werneck, 1685, Buritis – Belo Horizonte/MG

Florianópolis
Horário: a partir das 7h30
Local: Centro de Florianópolis

Goiânia
Horário: das 12h às 13h
Local: Em frente ao Palácio Pedro Ludovico – Rua 82, 400, St. Central – Goiânia/GO

Recife
Horário: das 10h às 13h
Local: Praça do Derby, Recife/PE

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