Ambiência https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br O que está em jogo na nossa relação com o planeta Fri, 03 Dec 2021 21:06:25 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Mundo ainda pode limitar crise do clima com ações imediatas, mostra IPCC https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/08/09/mundo-ainda-pode-limitar-crise-do-clima-com-acoes-imediatas-mostra-ipcc/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/08/09/mundo-ainda-pode-limitar-crise-do-clima-com-acoes-imediatas-mostra-ipcc/#respond Mon, 09 Aug 2021 08:19:30 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/globo-320x215.png https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=980 Novos cenários do futuro do clima revelam caminhos mais estreitos para conter o aquecimento global. O mundo deve começar a derrubar as emissões de gases-estufa a partir de agora para garantir o cenário mais seguro, com aquecimento global limitado a 1,5ºC – meta que evitaria as consequências mais desastrosas das mudanças climáticas e vem sendo usada como baliza para os anúncios de compromissos de líderes globais.

O orçamento atual – ou o quanto ainda se pode emitir – é de 300 gigatoneladas de gás carbônico (principal causador do aquecimento global).

Caso consiga se manter dentro desse limite nas próximas décadas, o mundo terá 83% de chances de conter o aquecimento global entre 1,5ºC e 1,9ºC. O acumulado histórico de emissões de carbono é de 2390 gigatoneladas, de 1850 a 2019. Só em 2020, o mundo emitiu outras 34 gigatoneladas.

As projeções são do novo relatório do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU) divulgado nesta segunda (9). Ele traz uma revisão da base da ciência física do clima e foi aprovado na última sexta pelos 195 países que compõem o painel científico da ONU. 

O relatório traçou cinco cenários para a trajetória de emissões de gases-estufa e o consequente aumento da temperatura global.

Orçamento de carbono define avanço da temperatura global

IPCC traça cinco cenários de emissões de carbono e seus impactos na temperatura do planeta. (Imagem: IPCC)

Nos dois primeiros cenários, as emissões começam a cair imediatamente e garantem trajetórias próximas na limitação do aquecimento, que chegariam ao final do século em torno de 1,4 ºC no cenário de redução mais drástica de emissões e próximo de 1,8 ºC no segundo cenário de queda imediata, mas mais lenta, das emissões.

No cenário intermediário, as emissões atingem o pico por volta de 2040 e levaria um aquecimento próximo de 3ºC até o fim do século.

Nos últimos dois cenários, as emissões seguem subindo nas próximas décadas e levam a um aumento da temperatura média global de 3,7ºC e 4,4ºC até o fim do século.

O relatório também detalha de forma inédita o papel de outros gases-estufa no aumento da temperatura. Depois do protagonista carbono – que sozinho responde pelo acréscimo de quase 1ºC na temperatura do planeta entre 2010 e 2019, comparado ao período anterior a 1900 – o segundo gás que mais afeta o clima planetário é o metano. No mesmo período, o gás respondeu pelo aquecimento global de 0,5 ºC. 

“A vantagem do metano é que ele tem uma meia-vida curta, então qualquer redução de emissão tem um impacto em curto prazo no sistema climático global”, diz o físico Paulo Artaxo, professor da Universidade de São Paulo e membro do IPCC.

Segundo Artaxo, enquanto o gás carbônico tem meia-vida de milhares de anos (tempo necessário para que metade do número de átomos comece a se desintegrar), a do metano é de apenas onze anos. Ou seja, os efeitos da redução das emissões de metano podem ser percebidos no clima em um prazo mais curto.

O metano é emitido pelo setor agropecuário, principalmente por conta da fermentação entérica dos bovinos, e também pelo uso de fertilizantes nitrogenados, segundo dados da Embrapa. Como maior exportador de carne bovina do mundo, Brasil é um dos países mais desafiados no corte de emissões de metano.

Outra fonte de emissão do metano está em vazamentos que ocorrem na exploração de gás natural. “Essas emissões estão aumentando mais rapidamente, porque as termelétricas a carvão e a óleo estão sendo substituídas por gás natural, que tem eficiência energética maior. Com isso, há mais vazamentos e mais concentração atmosférica de metano”, diz Artaxo.

O estudo também quantificou a contribuição de poluentes como material particulado, monóxido de carbono e orgânicos voláteis para o aumento da temperatura global, assim como o efeito contrário: substâncias aerossóis contribuíram no sentido de esfriamento da atmosfera global – no caso do dióxido de enxofre, o impacto de esfriamento foi de 0,5ºC. No balanço, os gases que causam o efeito estufa mostram quantidades e efeitos mais amplos. A temperatura global atual  já é 1,1 ºC superior em relação ao período anterior a 1900.

A conta também mostra a contribuição humana para esse saldo: 1,07ºC do aquecimento se deve a gases emitidos por atividades humanas. O reforço de dados levou a uma linguagem ainda mais firme para definir a responsabilidade humana pela crise climática. Nos relatórios anteriores, essa relação era descrita como “muito provável”, clasifficação que indica probabilidade de 90 a 95%. No texto divulgado nesta segunda (9), a atribuição da mudança do clima às atividades humanas é dada como “virtualmente certa”, com probabilidade de 99% a 100%.

“Não é mais um debate sobre se as ações humanas dão causa à crise climática, mas do quanto. E o quanto, estimado pela primeira vez é estarrecedor”, diz Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima. “Além do mais, apesar de dizer que a chance de 1,5°C ainda existe, o documento também mostra que a janela para isso é estreita, e não comporta governos negacionistas”, conclui.

“Nossa oportunidade de evitar impactos ainda mais catastróficos tem uma data de validade. O relatório sugere que esta década é nossa última chance de adotar as medidas necessárias para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C. Se falharmos coletivamente em reduzir de forma rápida as emissões de gases de efeito estufa até o fim da década, essa meta ficará fora de alcance”, diz a vice presidente de Clima e Economia da ONG World Resources Institute (WRI), Helen Mountford.

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Investidores de R$ 21,8 trilhões pedem que bancos ajam sobre clima e biodiversidade https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/07/06/investidores-de-r-218-trilhoes-pedem-que-bancos-ajam-sobre-clima-e-biodiversidade/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/07/06/investidores-de-r-218-trilhoes-pedem-que-bancos-ajam-sobre-clima-e-biodiversidade/#respond Wed, 07 Jul 2021 01:50:30 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/Nv6WNADC-320x215.jpeg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=968 Um grupo de 115 investidores internacionais enviou nesta terça (6) uma carta a 63 bancos globais pedindo medidas sobre clima e biodiversidade.

Os signatários – entre eles, os grupos Aviva Investors, Fidelity International, Federated Hermes e M&G Investments – representam US$4,2 trilhões (R$ 21,8 trilhões) em aplicações.

A carta, ao qual o blog teve acesso, pede que os bancos se comprometam a eliminar o financiamento ao carvão até 2030 nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e até 2040 no restante do mundo.

O grupo também quer políticas para setores de alto impacto ambiental e sugere um alinhamento de expectativas sobre a gestão de riscos ligados à biodiversidade e aos direitos humanos. A carta pede que os bancos enviem respostas até 15 de agosto.

Na esteira de cobranças de políticas do governo brasileiro para a Amazônia e de corte de investimentos em empresas ligadas a desmatamento, a carta marca mais um gesto do setor financeiro no sentido de incorporar critérios socioambientais na análise de riscos dos investimentos – influenciados tanto por ameaças físicas das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade quanto pela transição dos motores da economia global.

A carta destaca o papel da transição das energias fósseis para renováveis como principal estratégia para evitar as emissões de carbono, em vez de compensá-las com tecnologias de emissões negativas que, segundo o texto, devem receber “confiança mínima”.

O texto ainda pede que os bancos publiquem compromissos de curto prazo (cinco a dez anos) para clima e biodiversidade e considerem o risco climático em seus demonstrativos financeiros em todas as categorias de risco.

“Um grande banco internacional com uma presença geográfica significativa está exposto a uma série de riscos relacionados ao clima e à natureza, incluindo riscos físicos e de transição que podem ter um impacto significativo no valor dos ativos e passivos do banco. Como banco, você está em uma posição poderosa para conduzir a transição para o baixo carbono e enfrentar as piores consequências das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade”, diz a carta, enviada aos maiores bancos globais, incluindo JP Morgan Chase, Deutsche Bank, Standard Chartered, Santander, HSBC e Goldman Sachs.

A articulação é da campanha Share Action, que ganhou notoriedade após classificar os fundos de pensão britânicos a partir de critérios de investimentos responsáveis.

“Palavras calorosas sobre a importância da biodiversidade não são suficientes. Os investidores querem ações concretas agora, e os bancos que falharem em responder podem esperar sérios desafios em sua próxima assembleia geral anual”, afirma a coordenadora da campanha, Jeanne Martin.

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O dia depois de amanhã deve ter um preço para o carbono https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/04/22/o-dia-depois-de-amanha-deve-ter-um-preco-para-o-carbono/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/04/22/o-dia-depois-de-amanha-deve-ter-um-preco-para-o-carbono/#respond Thu, 22 Apr 2021 23:24:13 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/Folhapress-320x215.jpg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=933 Os anúncios dos Estados Unidos, União Europeia, Japão e Canadá de que devem cortar cerca de metade das suas emissões de carbono até 2030 sinalizam ao mundo uma guinada na trajetória do clima global. As lições de casa dos países para que isso aconteça, no entanto, devem ser drásticas e começam literalmente no dia depois de amanhã.

Assim que for encerrada a Cúpula do Clima, na sexta (23), o restante do mundo já deve começar a cobrar dos países desenvolvidos os meios de implementação para a transição energética, que eles prometem financiar.

A coerência dos países ricos também será mais fiscalizada. O que antes era uma ponte avançada entre a política climática e as relações comerciais, passa agora a ser cobrado como um item básico do compromisso com o clima: o comércio global deve ser condicionado a critérios de sustentabilidade.

Para entender o anúncio das nações mais desenvolvidas do mundo, é preciso enxergar a estratégia geopolítica da pauta climática, sem reduzi-la a filantropia, publicidade ou reputação. O que a Cúpula do Clima aponta é uma reconfiguração da agenda global, em que o carbono se encaixa entre os eixos centrais.

É com essa movimentação que a desconfiança global, que pautava anúncios de metas tímidas e duvidosas no último dezembro, dá lugar à confiança para os compromissos de cortar as emissões pela metade até 2030, mesmo que a China se mantenha firme na posição de atingir o pico das suas emissões somente no fim da década.

Biden certamente não prevê ser atropelado por um crescimento chinês baseado em energias fósseis. O plano é torná-las inviáveis, deixando em atraso os países que optam por adiar a transição.

Se, por um lado, não há previsão de sanções comerciais por questões ambientais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), os acordos bilaterais oferecem um caminho mais provável para que os países ricos associem suas metas climáticas à taxação de carbono, inibindo a importação de produtos ligados a combustíveis fósseis ou a desmatamento.

Além de desencadear a tendência da economia de baixo carbono no resto do mundo, a medida impediria a responsabilização desses países por emissões de carbono ‘compradas’ no exterior.

Embora a palavra “taxação” possa assustar um mercado global ainda dependente de energias fósseis, esse direcionamento pode ser fundamental para uma retomada econômica irrigada pelo desafio climático e que pode ganhar escalas para novos padrões até 2030.

Ela também pode ser o ‘chicote’ necessário para evitar uma espécie de “queima de estoque” promovida pelos setores dos combustíveis fósseis nos territórios onde eles seguirão liberados, especialmente em economias emergentes, como China, Rússia, Índia e Brasil.

Neste cenário, o Brasil ficará prejudicado até o fim de 2022, já que o projeto antiambiental do governo Bolsonaro ainda vai falar mais alto ao mundo do a nova encenação discursiva.

A chance de o país recuperar seu protagonismo ambiental nos próximos anos fica por conta da capacidade de outros atores – como empresas, ONGS, universidades e governos locais – para articular parcerias diretas com as fontes de financiamento nos Estados Unidos e na Europa. Uma saída resiliente que foi usada pelos americanos nos anos Trump e tem sido testada desde a eleição de Bolsonaro por aqui.

Botar um preço no carbono também implica na oferta de cenouras, tanto com incentivos fiscais aos setores menos poluentes, como pela valorização desses investimentos no mercado financeiro.

Se o carbono jogado na atmosfera vira um custo, os gases capturados de volta para o solo podem ser ativos negociados como títulos verdes no mercado. A busca de títulos sustentáveis, assim como o uso dos critérios ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) e ainda a inclusão dos riscos climáticos na avaliação dos investimentos consolida no mundo financeiro uma visão bastante pragmática sobre as mudanças climáticas, cujo avanço gera incertezas incompatíveis com a busca de retorno financeiro.

Com a aproximação dos prazos e dos limites planetários, a conservação ambiental se revela garantidora do crescimento econômico, em vez de uma limitante. A alavanca deste momento para a economia global pode estar justamente na mobilização de recursos para fazer frente ao desafio climático.

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Dalai Lama e 100 vencedores do Nobel pedem fim do petróleo, carvão e gás https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/04/21/dalai-lama-e-100-vencedores-do-nobel-pedem-fim-do-petroleo-carvao-e-gas/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/04/21/dalai-lama-e-100-vencedores-do-nobel-pedem-fim-do-petroleo-carvao-e-gas/#respond Wed, 21 Apr 2021 13:01:30 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/WhatsApp-Image-2019-09-20-at-17.14.13-1-320x215.jpeg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=928 Em carta aberta aos líderes globais que se reúnem na quinta (22) na Cúpula do Clima, organizada de forma online pelos Estados Unidos, 101 ganhadores de prêmios Nobel pedem que os compromissos anunciados pelos países incluam ações para o fim da expansão dos combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás, que são a principal fonte de gases causadores do aquecimento global.

Entre os signatários da carta estão Dalai Lama, ganhador do Nobel da Paz em 1989, Muhammad Yunus, fundador do Grameen Bank e ganhador do Nobel da Paz em 2006, Rigoberta Menchú Tum, ativista pelos direitos humanos na Guatemala e ganhadora do Nobel da Paz em 1992, e Adolfo Pérez Esquivel, ativista argentino pelos direitos humanos e ganhador do Nobel da Paz em 1980.

“A indústria de combustíveis fósseis segue planejando novos projetos, que os bancos continuam a financiar. De acordo com o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, até 2030 serão produzidos 120% a mais de carvão, petróleo e gás do que é compatível com a limitação do aquecimento global a 1,5°C”, diz a carta, que pede o fim da expansão dos combustíveis fósseis, a eliminação da produção existente e um plano de transição global para energias renováveis.

As assinaturas dos prêmios Nobel foram articuladas pela iniciativa Tratado de Não-Proliferação de Combustíveis Fósseis, com o apoio de 350.org e outras ONGs.

Leia abaixo a íntegra da carta.

Declaração dos ganhadores do Prêmio Nobel aos líderes mundiais participantes da Cúpula do Clima

Deixem os combustíveis fósseis debaixo da terra

Como ganhadores do Prêmio Nobel da Paz, Literatura, Medicina, Física e Economia, e assim como tantas pessoas no mundo inteiro, nos sentimos tomados pela grande questão moral do nosso tempo: a crise climática e a consequente destruição da natureza.

As mudanças climáticas ameaçam centenas de milhões de vidas, assim como os meios de subsistência em todos os continentes, e põem em perigo milhares de espécies. A queima de combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás – é, de longe, a principal causa para a mudança climática.

Neste 21 de abril, véspera do Dia da Terra e da Cúpula do Clima, organizada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nos dirigimos aos líderes mundiais para instá-los a agir imediatamente para frear a expansão do petróleo, gás e carvão e, assim, evitar uma catástrofe climática.

Acolhemos o reconhecimento do Presidente Biden e do governo dos EUA, em sua Ordem Executiva, de que “juntos, devemos ouvir a ciência e estar à altura do atual momento”. De fato, estar à altura deste momento significa exigir respostas à crise climática que definirão nossos legados – e os requisitos para estar do lado certo da História são claros.

Por muito tempo, os governos ficaram escandalosamente aquém do que a ciência exige e do que um movimento popular poderoso e crescente já sabe: precisamos urgentemente de ações para pôr fim à expansão da produção de combustíveis fósseis, eliminar gradualmente a produção já instalada e investir em energias renováveis.

A queima de combustíveis fósseis é responsável por quase 80% das emissões de dióxido de carbono desde a Revolução Industrial. Além de esses combustíveis serem as principais fontes de emissões, seu processo de extração, refino, transporte e queima provoca poluição e eleva os custos ambientais e de saúde, que são, muitas vezes, pagos pelos povos indígenas e pelas comunidades marginalizadas. Práticas industriais chocantes também levaram a violações dos direitos humanos e a um sistema atrelado aos combustíveis fósseis que deixou bilhões de pessoas em todo o mundo sem energia suficiente para viver dignamente.

Tanto pelas pessoas quanto pelo planeta, é necessário apoiar continuamente os esforços para enfrentar as mudanças climáticas, por meio da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e do Acordo de Paris. O descumprimento do limite de aumento de temperatura definido no Acordo de Paris, de 1,5°C, traz o risco de que o mundo seja empurrado rumo a um aquecimento global catastrófico.

Entretanto, o Acordo de Paris não menciona petróleo, gás ou carvão. Enquanto isso, a indústria de combustíveis fósseis segue planejando novos projetos, que os bancos continuam a financiar. De acordo com o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, até 2030 serão produzidos 120% a mais de carvão, petróleo e gás do que é compatível com a limitação do aquecimento global a 1,5°C. Os esforços para respeitar o Acordo de Paris e reduzir a demanda por combustíveis fósseis serão prejudicados se a oferta continuar a crescer.

A solução é clara: os combustíveis fósseis têm que ficar debaixo da terra.

Os líderes globais, e não a indústria de combustíveis fósseis, detêm o poder e a responsabilidade moral de tomar ações ousadas para enfrentar esta crise. Apelamos a essas lideranças para que trabalhem juntas, em espírito de cooperação, com o objetivo de:

● Acabar com a expansão da produção de petróleo, gás e carvão, em linha com os melhores dados científicos disponíveis, conforme definido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA);

● Eliminar a produção existente de petróleo, gás e carvão de uma maneira justa e equitativa, considerando as responsabilidades dos países pelas mudanças climáticas, sua respectiva dependência de combustíveis fósseis e sua capacidade de transição;

● Investir em um plano de transição que garanta 100% de acesso à energia renovável globalmente, apoie as economias dependentes para que diversifiquem sua produção e se afastem dos combustíveis fósseis e possibilite às pessoas e comunidades de todo o mundo prosperarem por meio de uma transição global justa.

Os combustíveis fósseis são a principal causa das mudanças climáticas. Permitir a expansão contínua desse setor é inaceitável. O sistema de combustíveis fósseis é global e requer uma solução global – uma solução em que a Cúpula dos Líderes do Clima deve trabalhar. E o primeiro passo consiste em manter os combustíveis fósseis debaixo da terra.

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Biden deve barrar importação que desmata a Amazônia, diz plano de ex-oficiais https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/01/29/biden-deve-barrar-importacao-que-desmata-a-amazonia-diz-plano-de-ex-oficiais/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/01/29/biden-deve-barrar-importacao-que-desmata-a-amazonia-diz-plano-de-ex-oficiais/#respond Fri, 29 Jan 2021 22:31:48 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/15693654095d8a9da1b6cda_1569365409_3x2_md.jpg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=891 Um grupo formado por ex-oficiais do governo americano e ex-negociadores-chefes de mudanças climáticas dos Estados Unidos divulgou nesta sexta-feira (29) um plano que deve nortear a política climática do governo Biden.

O documento, entregue na terça (26) à presidência americana e ao enviado especial de clima, John Kerry, apresenta quatro eixos. Dois deles já haviam sido anunciados por Biden: a mobilização de fundos públicos e privados para a conservação de florestas tropicais e a diplomacia ‘robusta’, já em articulação desde a nomeação de Kerry.

Os outros dois eixos apontam para a regulação da importação de commodities com risco de desmatamento, através de regras para o comércio e de transparência das cadeias de fornecimento.

Entre as recomendações, estão a proibição da importação de commodities agrícolas cultivadas em áreas desmatadas ilegalmente, a execução de atos contra prática de corrupção no estrangeiro e o fortalecimento de critérios de governança para florestas tropicais em futuros acordos comerciais.

O plano também aconselha a administração de Biden a obrigar que empresas americanas prestem contas sobre suas cadeias de fornecimento, revelando dados que permitam rastrear e administrar o risco de ligação com o desmatamento.

As medidas voltadas a “harmonizar as políticas comerciais dos Estados Unidos com a política climática para a Amazônia”, como afirma o plano, alinham-se a políticas propostas pela União Europeia, no âmbito do acordo comercial com o Mercosul, e do Reino Unido, que tramita uma legislação semelhante para barrar importações ligadas a desmatamento.

No entanto, a abordagem frustra expectativas do governo brasileiro. A aposta do alto escalão do Ministério da Agricultura era de que os Estados Unidos manteriam as pautas separadas, como mostrou o blog na última semana.

O plano entregue a Biden também faz recomendações específicas sobre a relação dos Estados Unidos com o governo brasileiro.

“A administração deve atuar de forma decisiva para reduzir a demanda global por bens que impulsionam o desmatamento ilegal e danos ao clima. É legítimo e razoável considerar o desempenho do Brasil em relação a essas prioridades ao se ponderar sobre políticas dos Estados Unidos relacionadas ao Brasil, incluindo a adesão à OCDE, futuras vendas militares, novos acordos comerciais e mais. A administração também pode se envolver de forma construtiva com governos subnacionais brasileiros, empresas e sociedade civil, de acordo com os Estados Unidos e a legislação brasileira”, diz o documento.

Ainda que tenha sido enviado como uma sugestão externa, o plano já foi elogiado por líderes europeus – como os ministros de meio ambiente da Alemanha e da Noruega – e é visto como o primeiro desenho da política climática de Biden. Isso porque o documento é assinado por nomes de grande influência em Washington e que lideraram políticas climáticas tanto em governos republicanos quanto em democratas. Em carta, eles também prometem ajudar o novo presidente a viabilizar as propostas através de articulações com o Congresso americano.

Assinam o documento Todd Stern, negociador-chefe do governo Obama para mudanças climáticas no Acordo de Paris e negociador sênior no governo Clinton no Protocolo de Kyoto; Tim Wirth, subsecretário de Estado para Assuntos Globais no governo Clinton, negociador-chefe para mudanças climáticas no Protocolo de Kyoto;
William Reilly, chefe da Agência de Proteção Ambiental no governo Bush, ex-presidente do World Wildlife Fund; Bruce Babbitt, ex-secretário do Interior no governo Clinton; Christine Whitman, chefe da Agência de Proteção Ambiental no governo Bush; Stuart Eizenstat, ex-embaixador na União Europeia; Frank Loy, subsecretário de Estado para Assuntos Globais e negociador-chefe para mudanças climáticas no governo Clinton (1998-2001).

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Isolar Bolsonaro deve ser parte da agenda climática de Biden https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/01/20/isolar-bolsonaro-deve-ser-parte-da-agenda-climatica-de-biden/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2021/01/20/isolar-bolsonaro-deve-ser-parte-da-agenda-climatica-de-biden/#respond Wed, 20 Jan 2021 21:22:50 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/WhatsApp-Image-2019-09-20-at-17.14.16-1-e1569011638630-320x215.jpeg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=881 ANÁLISE – Não é realista esperar que o governo Bolsonaro se ajuste à mudança de governo nos Estados Unidos. Sua união a Trump era, afinal, ideológica e sem nenhum pragmatismo. Assim também deve funcionar seu antagonismo a Biden – só que o americano se beneficiará dessa rivalidade de forma pragmática.

Para voltar a figurar como mocinho na agenda internacional do combate às mudanças climáticas, os Estados Unidos devem incentivar o restante do mundo a apontar para o Brasil de Bolsonaro como o vilão da história.

A versão contada pelo presidente Bolsonaro deve alimentar a polarização, ajudando o protagonismo americano e trazendo dificuldades para a diplomacia brasileira (que, nos bastidores, ainda busca preservar as relações internacionais). No entanto, o comércio não deve ser atingido, segundo avaliações do governo federal.

De acordo com fontes do alto escalão do governo, não passam de pensamentos desejosos as expectativas de demissões de Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente).

Eles têm a confiança do presidente, apesar dos desgastes gerados nas relações com importantes parceiros comerciais, como a China, a União Europeia (que protela uma decisão sobre o acordo comercial com o Mercosul por conta da política ambiental brasileira) e com o sistema multilateral da ONU, especialmente nas negociações sobre clima e biodiversidade, nas quais o Brasil já tem figurado como pária.

A era Biden é vista com otimismo no Ministério da Agricultura, que conta com a separação entre as relações comerciais e o discurso ambientalista, já que o novo presidente americano tem anunciado sua prioridade às relações multilaterais.

O blog teve acesso a mensagens trocadas entre pessoas ligadas à administração da pasta. Uma delas diz que, o multilateralismo nos beneficia, pois no âmbito da OMC [Organização Mundial do Comércio] não estão previstas sanções comerciais por questões ambientais.

As regras já definidas pelos sistemas multilaterais trazem mais previsibilidade para as negociações brasileiras em comparação com acordos bilaterais com gigantes como Estados Unidos e China. O Itamaraty também estaria trabalhando para evitar que a OMC adote condicionantes ambientais para o comércio global.

A avaliação é confirmada por diplomatas brasileiros ouvidos pelo blog. Eles entendem que os Estados Unidos não se interessam por políticas que boicotem commodities associadas a desmatamento – uma ameaça crescente dos europeus sobre o Brasil, diante da aceleração do desmate na Amazônia e no Cerrado.

A aposta do governo brasileiro é que Biden só reforce a postura da União Europeia no nível do discurso. Mas isso não significa que o país não será impactado. Pelo contrário: as palavras também importam e devem empurrar o Brasil para um isolamento político ainda mais acentuado.

De acordo com diplomatas que negociam acordos ambientais, apontar o Brasil como vilão será uma estratégia de Biden para recuperar sua credibilidade internacional, colocada em xeque na agenda climática por antecessores republicanos: os ex-presidentes Trump, que abandonou o Acordo de Paris e George Bush, que se opôs ao acordo anterior, o Protocolo de Kyoto.

Diante da desconfiança sobre a oscilação do protagonismo americano no combate ao aquecimento global, líderes internacionais aguardam sinais de consolidação do comprometimento anunciado por Biden.

Para além do retorno imediato ao Acordo de Paris, anunciado logo antes da sua posse, os sinais políticos devem ser confirmados com políticas domésticas, como a regulação de incentivos a setores menos poluentes e ainda a aprovação de leis que assegurem uma trajetória de queda de emissões até 2030.

Enquanto não mostra sua lição de casa, poder apontar a postura do Brasil como pária internacional funcionará para Biden como um trunfo.

Além de derrubar a força política das posições brasileiras em negociações internacionais, negociadores de diversos países desejam também rever a regra dos sistemas de tomada de decisão da ONU que exigem consenso entre todos os países. Isso porque o Brasil conseguiu, a partir da sua postura isolada, bloquear avanços em negociações que contavam com a aprovação formal de todos os outros países.

Os bloqueios do Brasil levaram a uma frustração generalizada e também a uma expectativa de que a chegada de John Kerry, que foi secretário de Estado de Obama e será o enviado especial para o clima no governo Biden, possa influenciar a criação de um sistema de negociação que não fique refém de uma resistência isolada.

A força da articulação política de Kerry também aponta para a possibilidade de uma tríplice aliança entre Estados Unidos, União Europeia e China, que buscam protagonismo na agenda climática e também respondem pela maior parte das emissões globais de gases causadores do aquecimento global. São também os maiores importadores do Brasil.
O efeito de Bolsonaro para a agenda climática é hoje comparável ao de Trump, que, ao anunciar sua saída do Acordo de Paris, provocou a Europa a China a assumir o protagonismo da pauta, fortalecendo-a.

A postura negacionista e antiglobalista do Brasil agora fortalece os ‘inimigos’ aos quais o projeto de Bolsonaro declarou guerra. A pauta das mudanças climáticas nunca havia sido tão importante como é agora para as relações internacionais, para o comércio global e para um presidente americano.

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Sem Trump, mundo volta a encarar a verdade inconveniente do clima https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2020/11/07/sem-trump-mundo-volta-a-encarar-a-verdade-inconveniente-do-clima/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2020/11/07/sem-trump-mundo-volta-a-encarar-a-verdade-inconveniente-do-clima/#respond Sat, 07 Nov 2020 22:09:13 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/WhatsApp-Image-2019-09-20-at-17.14.13-1-320x215.jpeg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=863 ANÁLISE – Líderes globais fizeram de tudo no âmbito político para compensar a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. No entanto, não puderam conter o contágio das posturas trumpistas em países-chave para o combate às mudanças climáticas, especialmente no Brasil.

Apoiados por condições tecnológicas e mercadológicas que sopram a favor da transição energética, líderes globais buscaram dar o recado de que o mundo seguiria a rota traçada por Paris e que, se os Estados Unidos de Trump não quisessem encarar o desafio, a China estaria pronta para assumir a posição de liderança global, assim como a Alemanha de Merkel e a França de Macron.

No entanto, a ausência americana não só enfraqueceu os esforços de cooperação e de financiamento das ações climáticas, como também deixou blocos de países conservadores na agenda do clima mais confortáveis para bloquear entendimentos e até para negar a ciência climática.

Em 2018, o relatório do IPCC (painel científico da ONU sobre clima) entregue à Conferência do Clima da ONU foi combatido por diplomatas de diversos países e quase deixou de ser citado entre os documentos assinados na conferência, após revelar verdades ainda mais inconvenientes: o mundo precisaria se esforçar de três a cinco vezes mais do que o combinado no Acordo de Paris para vencer as consequências mais desastrosas do clima.

Temos uma década para cortar as emissões de carbono pela metade, segundo o relatório que o IPCC levou para a conferência de 2018.

O prazo apertado, mas tecnicamente viável, pode desacelerar as mudanças climáticas em curso, evitando, por exemplo, que os países-ilha sumam do mapa e que o Nordeste brasileiro vire um deserto.

Naquela reunião, os Estados Unidos, país que mais emitiu carbono em toda a história, já eram representados por um governo negacionista da ciência climática, enquanto o Brasil, detentor da maior floresta tropical do mundo, acabava de eleger a versão tropical de Trump como presidente.

Sem poder contar com os Estados Unidos e com o Brasil, a conta para resolver o maior desafio que a humanidade já encarou ficava ainda mais cara e talvez impagável para o restante dos países.

Com a derrota de Trump nesta eleição, o mundo começa se ver livre do fenômeno do negacionismo no poder.

Mais importante do que a vitória de Biden é a derrota de Trump e, com ela, o aniquilamento da negação da ciência e de falsas dicotomias entre desenvolvimento e conservação ambiental ou entre o Acordo de Paris e a geração de empregos – a que Biden responde com o plano de revolução de energia limpa, criando empregos no setor de renováveis.

As inspirações políticas que o trumpismo impulsionou mundo afora também perdem força. E líderes que se sentiam à vontade para cruzar limites da civilidade voltam a se ver comprometidos com algum pragmatismo – minimamente, o das urnas.

No entanto, ainda não podemos dar como certo um efeito dominó da eleição americana sobre a política ambiental brasileira. É possível que Bolsonaro resista a mudar o tom e tente se aventurar por saídas impróprias ou até autoritárias.

As declarações de Biden se dispondo a levantar recursos para a conservação da Amazônia soam como as do presidente francês Emmanuel Macron e são vistas pelo bolsonarismo como um atentado à soberania do país, alimentando teorias da conspiração de que o mundo teria interesse na internacionalização da Amazônia.

Até aqui, o governo Bolsonaro não tem respondido pragmaticamente a sinais importantes de países importadores de commodities brasileiras, como a China e a União Europeia, nem mesmo de investidores estrangeiros que ameaçaram deixar de investir no país caso as taxas de desmatamento da Amazônia continuassem descontroladas.

Agora, a pressão da comunidade internacional pelo controle do desmatamento da Amazônia pode ter mais chances de fazer efeito, já que Bolsonaro deixa de contar com a esperança de alguma parceria salvadora com os Estados Unidos.

Vale lembrar que o bioma é fundamental para a regulação do clima global e o desmate descontrolado o aproxima do ponto de não-retorno, a partir de quando a floresta não consegue mais se regenerar e tende a virar savana.

A verdade da ciência climática não é tão inconveniente para o Brasil. O mundo está disposto a pagar pelos benefícios de um recurso valioso do Brasil e que, enquanto conservado, continua sendo nosso. Mas, para entender que a crise oferece oportunidades de lucros e de liderança ao Brasil, o país ainda precisará se livrar das fake news e conspirações alimentadas pelo nosso Trump tropical.

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Gado pode regenerar pastagens degradadas, defendem especialistas https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2020/11/05/gado-pode-regenerar-pastagens-degradadas-defendem-especialistas/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2020/11/05/gado-pode-regenerar-pastagens-degradadas-defendem-especialistas/#respond Fri, 06 Nov 2020 00:43:53 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/triqueda-320x215.png https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=857 A recuperação de pastagens degradadas é um dos desafios centrais para a conciliação do setor da agropecuária com a conservação ambiental e o combate às mudanças climáticas.

Para três especialistas do agro, a própria atividade pecuária pode ser a ferramenta para a recuperação das pastagens degradadas. A chave seria um método baseado no comportamento da natureza, replicando os movimentos migratórios de grandes manadas de herbívoros.

Em artigo exclusivo para o blog Ambiência, eles explicam como conciliam produtividade com regeneração ambiental e defendem que o método pode mudar o paradigma da pecuária brasileira.

O texto é assinado pelo engenheiro agrônomo Luís Fernando Guedes Pinto, do Instituto Imaflora, e também por dois pecuaristas que implementam o método em suas fazendas: Leonardo Resende, sócio da Fazenda Triqueda, doutor em Geografia e Meio Ambiente e cofundador do projeto Pecuária Neutra e Regenerativa; e Filippo Leta, especialista em manejo regenerativo e fundador da marca Ah Pashto.

Os autores criticam as estratégias apoiadas atualmente pelo governo federal para recuperação de pastagens. “Nenhuma delas foca na origem do problema, que é o manejo ineficiente das pastagens; ou seja, elas não impedem que a degradação se repita de forma cíclica”.

Leia a seguir a íntegra do artigo.

Como revitalizar as pastagens degradadas do Brasil*

Há uma boa convergência de que o modelo de produção de alimentos adotado demanda mais recursos naturais do que a biocapacidade do planeta, agravando o aquecimento global e os extremos climáticos, isso sem se referir à perda de cobertura natural do solo, da biodiversidade, entre outros.

De acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), a Agenda Global tem como uma das principais diretrizes a redução da pegada ecológica do agronegócio, sendo parte desse desafio associado à redução global da degradação de terras férteis, estimada em 1% ao ano durante as últimas décadas.

No que diz respeito à pecuária brasileira, o principal esforço está concentrado em reduzir o percentual de pastagem diagnosticada como degradada de 52,43%, (ou 90,85 milhões de hectares) e elevar a baixa produtividade média, hoje de 0,7 cabeças/ha.

Vale destacar que o processo de degradação se caracteriza pela perda de matéria orgânica do solo, liberando o carbono estocado para a atmosfera, intensificando o passivo ambiental do 2º maior emissor de gases de efeito estufa do setor.

Mapa da distribuição das pastagens degradadas no Brasil (Imagem: LAPIG)

Nesse contexto, algumas estratégias podem ser utilizadas para reverter esse cenário, sendo a reforma de pastagens degradadas e a implementação da Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) as mais utilizadas no Brasil.

Ambas são incentivadas pelo Governo Federal através do Plano da Agricultura de Baixo Carbono (ABC), mas, paradoxalmente, nenhuma delas foca na origem do problema, que é o manejo ineficiente das pastagens; ou seja, elas não impedem que a degradação se repita de forma cíclica.

Para isso, também será necessário que haja uma evolução de boas práticas relacionadas ao manejo adequado das pastagens, com o potencial de mudar o paradigma da pecuária a pasto brasileira para um sistema de produção efetivamente agroecológico e sustentável.

Nesse contexto, a Pecuária Regenerativa vem sendo difundida no mundo apoiada por vários centros de pesquisa, como é o caso da Arizona State University, nos Estados Unidos, e da University of Alberta, no Canadá, assim como os Hubs do Instituto Savory, no Brasil, Argentina, Chile, África, entre outros.

A Pecuária Regenerativa busca mimetizar (ou imitar) o comportamento da natureza, utilizando o gado como ferramenta para revitalizar as pastagens, replicando a história de sucesso do período anterior à domesticação dos animais, quando as grandes manadas de herbívoros desempenhavam um papel importante no equilíbrio dos ecossistemas.

Eles se mantinham sempre agregados em grandes rebanhos e em movimento constante para se protegerem contra os predadores, podando os campos nativos em movimentos migratórios, contribuindo de maneira fundamental para a ciclagem de nutrientes e a vitalidade da vegetação.

Somado a isso, o ajuste da taxa de lotação e da pressão dos animais sobre a pastagem permite que a biomassa seja dividida em três partes similares: a primeira para nutrição dos animais, a segunda depositada no solo como matéria orgânica residual, e a terceira remanescente como base da planta para que a pastagem alcance uma performance de alto rendimento, permitindo maior vitalidade para todo o sistema.

A partir de um diagnóstico holístico, um plano de pastoreio racional é elaborado, respeitando as estações do ano e as fases da pastagem (crescimento e estagnação) e o contexto de cada piquete (ou pasto) ou, nos termos regenerativos, de cada microecossistema produtivo.

Caso a leitura desse microecossistema produtivo seja feita de forma sistemática e assertiva, as pastagens tropicais têm o potencial médio de seis ciclos de crescimento durante os meses mais quentes e úmidos (fase crescimento) e de três ciclos durante os meses mais frios e secos (fase da estagnação).

A cada ciclo de crescimento bem manejado, mais matéria orgânica é depositada no solo, incrementando o estoque de carbono em aproximadamente 1,4 toneladas de CO2 equivalente por hectare a cada ano.

Através do aumento do processo de fotossíntese e da matéria orgânica, os cinco pilares naturais do sistema produtivo são beneficiados, a saber:

1) ciclo da água: a matéria orgânica adicional diminui a velocidade de escoamento superficial da água da chuva, assim como a temperatura do solo e o processo de evapotranspiração, aumentando a disponibilidade hídrica, potencializando a taxa de infiltração e a recarga do lençol freático;

2) ciclo do carbono: a otimização dos ciclos de crescimento da pastagem e incremento de matéria orgânica representam um sequestro de carbono adicional, capaz de mitigar as emissões da pecuária;

3) balanço de energia: o manejo mais eficiente privilegia a conservação da energia por meio de processos sintrópicos (de forma antagônica à pecuária tradicional e entrópica);

4) dinâmica de nutrientes: mais fotossíntese significa mais carboidratos, privilegiando tanto a nutrição dos animais quanto toda a biodiversidade local;

5) dinâmica da macro e microbiologia: com mais água e carboidratos disponíveis, toda a cadeia trófica se beneficia, desde fungos, ácaros, micorrizas, fixadores de nitrogênio, nematoides, pequenos insetos, roedores, aves, até os predadores do topo de cadeia.

A quebra de paradigma representada por esse modelo produtivo inteligente do ponto de vista ambiental e climático sinaliza a possibilidade de que as fontes de proteína animal (ex: carne, couro, leite e derivados) possam ter sua origem diferenciada, passando esses produtos a não serem meramente denominados como commodities, que valem o quanto pesam, mas, sim, de acordo com o valor intrínseco referente ao seu indicador de sustentabilidade.

No que diz respeito à figura do produtor rural, experiências internacionais sinalizam que esse modelo o aproximou de um consumidor final, com perfil moderno e ávido por produtos de menor impacto ambiental, encurtando os elos da cadeia produtiva e aumentando sua lucratividade.

Tais práticas regenerativas são não só muito mais complexas, como também proporcionam muito mais benefícios, fortalecendo a busca de uma fonte de proteína animal segura, capaz de mitigar as mudanças climáticas, de apoiar a sociedade no desafio da segurança alimentar, bem como restaurar áreas degradadas.

O Brasil já domina as tecnologias da pecuária regenerativa. A Food Tank, instituição Norte Americana dedicada à construção de uma comunidade global sustentável, divulgou uma lista com os “28 projetos mais inovadores de pecuária no mundo e que estão moldando o futuro da proteína de origem animal”.

Dentre esses, duas iniciativas brasileiras foram selecionadas, e ambas fazem parte do Projeto Pecuária Neutra e Regenerativa: a fazenda Triqueda e a Ecofarms, sendo esta última também detentora do selo para pecuária da Rainforest Alliance e auditada pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) nas dimensões social, econômica e ambiental.

O próximo passo é construir políticas públicas e incentivos de mercado que multipliquem esses exemplos e alavanquem, em grande escala, a pecuária sustentável brasileira.

*Por Leonardo de Oliveira Resende, da Fazenda Triqueda, doutor em Geografia e Meio Ambiente e co-fundador do projeto Pecuária Neutra e Regenerativa; Luís Fernando Guedes Pinto, pesquisador do Imaflora, engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia e membro da Rede Folha de Empreendedores Sociais; e Filippo Fernando Bouzon Leta, especialista em manejo holístico e regenerativo, fundador da marca Ah Pashto e membro do Savory Institute no Brasil.

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Salles omite inventário de emissões de gases-estufa e quer alterar dados do agro https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2020/10/22/salles-omite-inventario-de-emissoes-de-gases-estufa-e-quer-alterar-dados-do-agro/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2020/10/22/salles-omite-inventario-de-emissoes-de-gases-estufa-e-quer-alterar-dados-do-agro/#respond Thu, 22 Oct 2020 21:47:23 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/salles-150x150.jpg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=849 O 4º inventário de emissões de gases-estufa do Brasil está pronto e o país tem a obrigação de apresentá-lo à ONU até dezembro.

No entanto, em reunião do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM), nessa quarta-feira (21), o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) omitiu a apresentação do documento e propôs adiar seu envio à ONU. A Folha apurou que o tempo ganho deve ser usado para alterar dados do setor agropecuário.

O atraso proposto por Salles implica em descumprimento do compromisso assumido pelo país na Convenção de Mudanças Climáticas da ONU – criada no Brasil em 1992.

Os países-membro da Convenção devem reportar a atualização das emissões de gases-estufa geradas ou removidas da atmosfera a cada quatro anos, o que permite à comunidade internacional calcular as projeções sobre o aquecimento global.

Os nove ministérios que compõem o comitê devem validar o inventário antes do reporte à ONU, mas Salles sinalizou que deve privá-los do documento, dizendo que “a data de divulgação será informada pela secretaria-executiva do comitê” – cargo ocupado por ele.

Apoiada por Braga Netto (Casa Civil), a fala de Salles teria incomodado Paulo Guedes (Economia) e Tereza Cristina (Agricultura), segundo fontes do governo.

A reunião foi iniciada apenas com ministros na sala. Salles teria barrado a entrada de assessores técnicos e até mesmo de Julio Semeghini, secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), que deixou o cargo no mesmo dia. Segundo o decreto de criação do comitê, os secretário-executivos podem representar os ministros nas reuniões.

O MCTI é responsável pela elaboração do inventário, que contou com financiamento de US$ 7,5 milhões (R$ 41,2 milhões) do Green Environmental Facility (GEF) e implementação do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD).

O 4º inventário revisa os cálculos das emissões de gases-estufa desde 1990 e inclui novos dados de 2011 a 2016 – o período acrescentado é de estabilização das emissões brasileiras. O que incomoda Salles, no entanto, é a atribuição de emissões ao setor agropecuário.

Segundo fontes de três ministérios, Salles propõe passar emissões da agropecuária para outra categoria, chamada de mudança do uso do solo e florestas, onde já se contabiliza as emissões por desmatamento.

Ainda na proposta do ministro, atividades que contribuem para retirar carbono da atmosfera – como a recuperação de pastagens degradadas – deixariam de ser contabilizadas como mudança do uso do solo, passando a contar como pontos positivos para o setor agropecuário.

A manobra não altera a conta final sobre a contribuição do país para as emissões globais, buscando apenas melhorar os resultados do setor agropecuário.

A trama foi descrita por especialistas como “infantil” e “tempestade em copo d’água”, já que os dois setores são vistos pela comunidade internacional como uma mesma fonte de emissões.

Os números do setor também foram alterados por um outro artifício, usado em outro relatório: a atualização bienal das emissões (2018-2019), cujo reporte à ONU também é obrigatório desde 2014.

Sob responsabilidade do Itamaraty, o relatório de atualização bienal (BUR, na sigla em inglês), foi elaborado com base em diretrizes de 1996. Mas desde 2006 o IPCC (painel científico da ONU sobre mudanças climáticas) usa um padrão mais rigoroso.

O novo padrão considera fontes de emissões da agropecuária que antes não era contabilizadas – como resíduos de pastagens reformadas e do processamento de cana-de-açúcar – e também aperfeiçoa a contabilidade das emissões geradas por diferentes tipos de rebanhos – cujas emissões são maiores do que se imaginava pelo padrão anterior.

A mudança de método gera um salto de 20% nas emissões do setor agropecuário, segundo Ciniro Costa Junior, engenheiro da equipe de clima e cadeias agropecuárias do Imaflora e um dos autores do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases-Estufa). O Seeg acompanha e evolução de método do inventário, atualizando seus dados para anos mais recentes.

O setor agropecuário, que respondia pela emissão anual de cerca de 500 milhões de toneladas de carbono em 2018, segundo o padrão antigo, deve figurar com cerca de 600 milhões de toneladas em 2019, por conta do novo método.

A reunião do comitê conduzido por Salles aprovou o relatório bienal, que usa o padrão ultrapassado, e omitiu o 4º inventário, que foi elaborado segundo o padrão atual.

Segundo especialistas, o uso de padrões diferentes em cada relatório gera incoerências que não devem passar despercebidas.

Para eles, além do descumprimento dos compromissos internacionais, a preocupação é também sobre a perda de credibilidade dos documentos brasileiros na comunidade internacional.

Procurado, o ministro Ricardo Salles não retornou ao contato da reportagem.

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Emissões de carbono no mundo caíram 17% durante pico do confinamento https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2020/05/19/emissoes-de-carbono-no-mundo-cairam-17-durante-pico-do-confinamento/ https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/2020/05/19/emissoes-de-carbono-no-mundo-cairam-17-durante-pico-do-confinamento/#respond Tue, 19 May 2020 15:34:43 +0000 https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/15849060515e77bf43e779f_1584906051_3x2_md.jpg https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br/?p=696 A queda nas emissões de carbono e outros gases de efeito-estufa, que aumentam o aquecimento global, foi de 17% na primeira semana de abril, quando as regiões do mundo responsáveis por 89% das emissões globais de CO2 estavam sob algum nível de confinamento.

A conclusão é de um estudo da Universidade de East Anglia (Inglaterra) publicado nesta terça (18) na revista científica Nature Climate Change.

A pesquisa estimou as mudanças nas emissões diárias de carbono e gases-estufa entre janeiro e abril, conforme os níveis de confinamento da população, para seis setores econômicos: residencial, geração de energia, transporte de superfície, indústria, prédios públicos e comércio e aviação.

A maior queda vem do setor de transporte de superfície (principalmente por veículos automotores), que reduziu suas emissões em 43%. O setor é responsável por 20% das emissões globais.

As emissões somadas dos setores de energia e indústria também resultam em uma queda de 43% das emissões. No mundo, a geração de energia responde por 44,3% das emissões de gases causadores do aquecimento global, enquanto o setor industrial é responsável por 22,4% das emissões.

A aviação é o setor mais impactado pelo confinamento, com redução de 70% nas emissões. No entanto, sua parcela de responsabilidade é de apenas 3% das emissões globais. Por isso, o setor corresponde a 10% da redução nas emissões globais durante a pandemia.

O setor residencial, que responde por 5% das emissões globais, foi o único com alta de emissões no período: 5.6%, devido ao aumento do consumo de energia nas residências durante o confinamento.

O estudo estima que o confinamento pode representar uma redução de 4% nas emissões globais de carbono em 2020 caso as medidas de isolamento durem até a metade de junho.

Se algumas restrições persistirem até o final de 2020, a redução nas emissões pode chegar até 7% para este ano – uma taxa, que, se for mantida anualmente, levaria o mundo a cumprir as metas do Acordo de Paris.

Em um cenário intermediário, caso as emissões retornem para os cenários pré-pandemia na segunda metade do ano, o estudo projeta ainda uma redução de 5% nas emissões de carbono em 2020. A gama completa de projeções para 2020, incluindo incertezas, é de uma redução de 2% a 13%.

De acordo com o relatório do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) sobre o orçamento de emissões globais, o Emissions Gap Report, o mundo deve reduzir ao menos 2,7% das emissões de gases-estufa a cada ano para garantir um teto de 2ºC no aquecimento global, ou então reduzir 7,6% ao ano para garantir um aquecimento inferior a 1,5ºC – limite para se prevenir o desaparecimento de países-ilhas.

Os autores do estudo lembram que a crise econômica global de 2008 levou a uma redução de 1,5% nas emissões em 2009 seguida de uma recuperação econômica que fez as emissões subirem em 5,1% em 2010.

Para que a queda temporária nas emissões seja refletida em mudanças estruturais, os pesquisadores recomendam que os formuladores de políticas públicas considerem estratégias de baixo carbono para a recuperação econômica.

O setor dos transportes, que teve a maior queda nas emissões durante a pandemia, também pode alavancar uma recuperação econômica de baixo carbono.

Entre as recomendações dos autores, estão um planejamento urbano que privilegie a mobilidade e dê mais espaço para pedestres e bicicletas; a priorização de fontes de energia limpas e veículos elétricos; e ainda algumas medidas testadas durante o confinamento, como o incentivo ao ‘home office’ e a substituição de viagens de negócios por teleconferências.

Para estimar as emissões durante a pandemia, o estudo analisou as políticas governamentais de confinamento em 69 países que representam juntos 97% das emissões globais de CO2.

As políticas foram divididas em três níveis de restrição: o primeiro apenas evita aglomerações e viagens de longas distâncias; o segundo restringe uma cidade ou região inteira, atingindo pelo menos metade da população; e o terceiro faz o chamado ‘lockdown’, o fechamento total de uma região, mantendo apenas atividades essenciais.

A partir das políticas de confinamento, os pesquisadores compararam a diminuição das atividades de seis setores econômicos com dados-padrão de mobilidade e congestionamento, uso de eletricidade e produção industrial dos países, estimando a queda das emissões decorrentes da diminuição do movimento nesses setores.

No caso brasileiro, o estudo aponta uma queda de 25,2% nas emissões de carbono devido às reduções nos setores econômicos ligados às cidades.

Entretanto, a maior fonte de emissões de gases-estufa no Brasil vem principalmente do desmatamento, queimadas e da criação de gado. Os setores florestal e agropecuário responderam juntos por 69% das emissões do país em 2018, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima.

O desmatamento na Amazônia tem subido durante a pandemia. Segundo o monitoramento por satélite da ONG Imazon, o desmate em abril foi de 529 km2 – o maior da última década para o mês de abril. Já o sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou alta de 55% entre janeiro e abril em relação ao início do ano passado.

Com isso, a previsão é que a temporada de seca na Amazônia, entre maio e setembro, tenha mais queimadas que o ano passado, aumentando também as emissões brasileiras em 2020.

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