Após desistência do Brasil, Chile sediará Conferência do Clima da ONU

O Grupo dos Países Latinoamericanos e Caribe (Grulac) comunicou nesta sexta (14) à ONU a indicação do Chile para sediar a próxima Conferência do Clima da ONU, a COP-25, que deve ocorrer no final de 2019.

A candidatura chilena substitui a brasileira – que já havia sido confirmada pelo Grulac em outubro, mas foi cancelada pelo Itamaraty no final de novembro. A desistência ocorreu após conversas com Bolsonaro e seu chanceler, Ernesto Araújo, que indicaram indisposição para receber a conferência.

Neste sábado (15), Bolsonaro disse em sua página no Facebook que “abrimos mão de sediar a Conferência Climática Mundial da ONU pois custaria mais de R$500 milhões ao Brasil e seria realizada em breve, o que poderia constranger o futuro governo a adotar posições que requerem um tempo maior de análise e estudo”.

O custo estimado pelo governo brasileiro para sediar a COP-25 era de US$100 milhões (R$392 milhões). No entanto, o valor costuma ser dividido entre a União, a cidade-sede, a agência de mudanças climáticas da ONU e empresas patrocinadoras do evento.

O orçamento da COP-25 já tinha recebido uma emenda na Lei de Diretrizes Orçamentárias e aguardava revisão da relatoria do orçamento de 2019 no Congresso.  A Folha apurou que o Ministério do Meio Ambiente também tinha reservado verbas do Fundo Clima para garantir a viabilização do evento. A hidrelétrica binacional Itaipu está entre as patrocinadoras de edições mais recentes das COPs do Clima.

“O Brasil não cancelou a COP por uma questão orçamentária, mas pela falta de visão estratégica de que essa é uma agenda de desenvolvimento e também de negócios, que traz investimentos para o país em setores como o florestal e o de energias renováveis, além de movimentar a economia, atraindo cerca de 30 mil pessoas”, criticou o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl.

“Repare que países menores que o Brasil propuseram sediar a COP; e a Polônia, um país em desenvolvimento, está sediando pela terceira vez”, acrescenta Rittl.

Ao longo da COP-24 – que termina neste fim de semana em Katowice, na Polônia –  o Chile concorreu com a Costa Rica, que era forte candidata a presidir a próxima COP, mas alegou dificuldades de infraestrutura para receber o público de 20 a 30 mil pessoas que atende as conferências climáticas.

O Chile, por outro lado, chegou a enfrentar resistência da Venezuela – que também havia vetado a candidatura a brasileira. A posição do governo de Maduro responde à falta de apoio dos vizinhos para o enfrentamento da crise venezuelana. No entanto, o país foi vencido nas negociações do Grulac.

Chile e Costa Rica trabalharam juntos para garantir que a próxima COP acontecesse na América Latina. Caso o Grulac não decidisse por um país da região, a conferência voltaria à sede da agência da mudanças climáticas da ONU, em Bonn, na Alemanha. A decisão final do Grulac comunica que o Chile sediará a COP-25, enquanto a Costa Rica sediará o evento preparatório da conferência, em maio.

O Chile também foi confirmado como destino da primeira viagem presidencial de Bolsonaro, que deve visitar o país no começo de 2019. Em pronunciamento à imprensa em outubro, o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que o Chile é referência para a América Latina em renda, educação, tecnologia e comércio exterior.

Inconformados com a desistência do Brasil de sediar a próxima conferência climática, cerca de 20 jovens brasileiros que participam da COP-24 estão se mobilizando para organizar uma “COP Jovem” no Brasil no próximo ano, liderados pelas organizações Youth Climate Leaders e SDSN Youth Amazônia.