Além de metais pesados, bactérias tóxicas contaminam rio Paraopeba

“Nos primeiros 50 km, não encontramos nenhum bactéria; o rio não tinha vida. Mas, depois, começaram a aparecer bactérias perigosas, tipicamente encontradas no chorume de aterros e em cemitérios”, disse Malu Ribeiro, coordenadora do programa de água da SOS Mata Atlântica. Ela acompanhou a coleta das amostras de água do rio Paraopeba e apresentou nesta quarta (27) o resultado das análises à comissão externa no Congresso sobre a tragédia de Brumadinho.

À Folha ela revelou surpresa e preocupação com a contaminação gerada pela decomposição de organismos após a tragédia, incluindo vidas humanas e de animais. Em um dos pontos de coleta, a concentração de microorganismos ultrapassa o nível de 500 mil UFC (Unidade Formadora de Colônia), 500 vezes acima do limite previsto em lei para rios de classe 2, como é o Paraopeba.

A expedição encontrou oito tipos de bactérias perigosas devido ao seu potencial de causar doenças, como infecções de pele, urinária, hematológica e até generalizada. Entre elas, está a Salmonella spp, causadora da febre tifóide.

“O mais preocupante é que essas bactérias se mostraram resistentes aos antibióticos mais comuns, como amoxicilina e penicilina”, alerta Marta Marcondes, coordenadora do laboratório de análise ambiental da Universidade Municipal de São Caetano do Sul e responsável pela coleta e avaliação microbiológica da expedição pelo Paraopeba.

Ela explica que as bactérias podem ter se multiplicado a partir do intestino de cadáveres humanos e de outros animais e também pelas fossas ou estações de tratamento de esgoto arrastadas no caminho da lama, deixando vulneráveis as comunidades que vivem nas proximidades do Paraopeba.

No relatório divulgado nesta quarta, o índice de qualidade da água do rio é classificado como “péssimo” em 12 dos 22 pontos de coleta – imprópria para qualquer uso – e “ruim” nos outros dez locais, que só permitiria uso para movimentar uma hidrelétrica, por exemplo.

A presença de metais pesados, já revelada ao longo da expedição, também foi confirmada pelo relatório, com números alarmantes. Cobre, manganês e cromo foram encontrados em níveis muito superiores aos limites indicados por legislação. Em um dos 22 pontos de coleta, o nível de cobre é 611 vezes superior ao tolerável para a vida no rio.

O relatório, no entanto, não avalia a presença de outros metais pesados como chumbo e mercúrio, apontados em três outros relatórios produzidos pela Agência Nacional de Águas, pelo Serviço Geológico do Brasil e pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas.

A audiência da comissão externa do Congresso sobre a tragédia de Brumadinho faz parte de uma série de debates  para discutir o modelo de construção, fiscalização e monitoramento das barragens de rejeitos de mineração. A partir deles, os deputados devem propor  medidas na legislação mineral e ambiental para evitar tragédias como as de Mariana e Brumadinho.

Na tarde desta quarta(27), a comissão ainda conta com as apresentações do gerente de Segurança de Barragens de Mineração da Agência Nacional de Mineração (ANM), Luiz Paniago Neves; o secretário-geral da Agência Nacional das Águas, Rogério de Abreu Menescal; e o presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, Adilson Ribeiro.