Prefeito chileno que vai sediar COP do Clima busca soluções no Brasil
O prefeito de Independência (distrito central de Santiago, capital do Chile) esteve em São Paulo na última semana em busca de tecnologias sustentáveis. Sua gestão se prepara para sediar a COP-25 do Clima, conferência de mudanças climáticas da ONU que aconteceria no Brasil, mas foi rejeitada por Bolsonaro.
Em conversa com o blog, Gonzalo Baronti conta que deve implementar dois projetos-piloto ainda neste ano em parceria com startups brasileiras.
O prefeito quer testar o aplicativo Bynd, que organiza caronas entre funcionários de uma mesma instituição. Baronti aposta em uma melhora do trânsito com o envolvimento de servidores da prefeitura, de escolas e postos de saúde municipais no uso da tecnologia.
Outra solução que chamou a atenção do prefeito são as caixas de compostagem desenvolvidas pela Morada da Floresta. “Estamos iniciando o sistema de compostagem em Independência e importar as caixas com tudo pronto pode ajudar a massificar o processo”, afirma Baronti, adiantando que pensa em começar com a importação de mil caixas de compostagem, para casas e escolas.
As caixas de compostagem vêm com terra, serragem e minhocas para decompor os resíduos orgânicos, que viram adubo. Uma torneira acoplada ao equipamento facilita a retirada do chorume formado pela decomposição.
“Prefeitos brasileiros também mostram interesse pelas composteiras, porque elas diminuem a quantidade de resíduos encaminhados para os aterros e isso gera economia para a prefeitura”, afirma o fundador da empresa, Cláudio Spínola.
O diferencial buscado pelo prefeito chileno nas duas tecnologias é a capacidade de envolver governos locais e cidadãos. Isso porque, “com a chegada da COP, há um sentimento de que quem deve tratar sobre mudanças climáticas são só os governos nacionais”, ele diz.
“A COP é uma vitrine da sua cidade e das suas políticas de mudanças climáticas para o mundo e claramente é oportunidade de negócios”, afirma Baronti.
Questionado se a organização da COP teria motivado a busca por inovações, o prefeito conta que buscava legados que a conferência poderia deixar para a cidade. “Por isso o evento será no distrito de Cerrillos, que estava debilitado e agora deve receber investimentos”, diz.
Baronti integra o comitê assessor presidencial para a organização da COP junto a outros dois prefeitos de distritos (ou ‘comunas’) de Santiago – o município tem sua administração dividida em 37 unidades independentes.
As negociações com empresas brasileiras aconteceram graças a um ‘matchmaking’ promovido por organizações climáticas que trabalham com diferentes atores e decidiram colocá-los na mesma sala.
O CDP, organização internacional que reúne empresas e investidores na agenda climática, levou prefeitos, secretários e servidores de cidades brasileiras e latinoamericanas para a mesa, que também contava com startups selecionadas pela incubadora Climate Ventures. O Iclei, associação global de governos locais, também apoiou o trabalho de ‘cupido’.
“O Brasil é competitivo e pode virar uma potência econômica mundial oferecendo serviços de baixo carbono, porque a gente tem energia limpa, tem produtos florestais importantes e as empresas brasileiras sempre entenderam isso”, afirma Alexandre Mansur, diretor de estratégia da empresa O Mundo Que Queremos, uma das organizadoras do evento.
Já para o prefeito que vai receber a COP-25, o engajamento das empresas não deve ser suficiente.
“Brasil pode fazer contribuição decisiva para o clima e é necessário que os governantes se coloquem à altura dessa tarefa. Lamento profundamente a política de Trump, seguida por governos como Bolsonaro, de total falta de compromisso na luta contra as mudanças climáticas. Espero que isso se reverta”, afirma.