Sem queimar Salles, governo Bolsonaro busca salvar Fundo Amazônia
Deputados, senadores, governadores da Amazônia, a ministra da Agricultura, um ministro alemão e até o presidente Bolsonaro discutiram o Fundo Amazônia em diversas agendas ao longo desta terça-feira (9).
O governo tenta evitar a extinção do mecanismo ao mesmo tempo em que poupa a imagem do ministro Ricardo Salles, cujas declarações contrárias à governança atual do mecanismo dispararam conflitos com os países doadores do Fundo, Noruega e Alemanha, e com governos locais que recebem recursos para projetos de conservação ambiental.
Em um aceno de prestígio a Salles, Bolsonaro visitou o Ministério do Meio Ambiente e acompanhou a reunião do ministro com o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), que defendeu esforços para permanência do Fundo Amazônia – o mecanismo financia projetos no seu estado, administrados pela secretaria estadual de meio ambiente.
A visita do presidente da República foi interpretada por interlocutores do governo como uma tentativa de afastar boatos sobre possível demissão do ministro, em meio a um clima de críticas internacionais sobre as políticas ambientais do governo e de incerteza sobre a continuidade do Fundo Amazônia.
No último domingo (07), uma nota publicada na revista Veja afirmava que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, teria pedido a demissão de Salles – o que ela negou no mesmo dia, pelo Twitter.
Representantes das bancadas ambientalista e ruralista e também assessores do ministério da Agricultura ouvidos pelo blog concordam que o ministro e o governo Bolsonaro seguem alinhados, por enquanto, e se esforçam para mostrar isso. No fim da tarde, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, voou para Brasília após uma agenda no Paraguai para encontrar Salles e o ministro alemão da Cooperação Econômica e Desenvolvimento, Gerd Müller.
“É normal passar por negociações quando há um novo governo”, afirmou Müller após a reunião. “O ministro reafirmou o compromisso com o combate ao desmatamento ilegal”, acrescentou.
Enquanto o Executivo se movimenta para apaziguar ânimos de países doadores e governos estaduais que utilizam o Fundo, o Congresso também movimentou a pauta nesta terça.
O Senado enviou um requerimento ao Tribunal de Contas da União (TCU) solicitando auditoria dos contratos do Fundo Amazônia. O pedido é de autoria do senador Márcio Bittar (MDB-AC) e foi aprovado nesta terça pela Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor da casa legislativa.
Já na Câmara dos Deputados, deputados da Comissão de Meio Ambiente se reuniram para preparar uma carta em defesa do Fundo Amazônia, mas o documento só deve ser divulgado após a realização de audiência pública marcada para esta quarta (10) às 14h. Convidado a prestar esclarecimentos, o ministro respondeu aos deputados que não deve comparecer.