Florestas levam 7 anos para recuperar funções após incêndios

Nem tudo está perdido após um incêndio. A capacidade de regeneração das florestas devastadas pelo fogo impressionou cientistas que conduziram estudo inédito sobre as dinâmicas das florestas após o fogo. Embora não voltem a ser como antes, elas recuperam rapidamente os ciclos de carbono e água, o que ajuda a estabilizar o clima local.

O estudo foi publicado na revista científica Global Change Biology e conduzido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), em parceria com a instituição americana Woods Hole Research Center, a Universidade de Brasília e outras oito entidades de pesquisa dos Estados Unidos, Austrália e Alemanha.

Entre 2004 e 2010, os pesquisadores queimaram em caráter experimental duas áreas, de 50 hectares cada, e mantiveram uma terceira intacta para comparação. A primeira área foi queimada anualmente e a segunda, a cada três anos.

Desde então, eles monitoram o tempo de recuperação do ecossistema, as mudanças na aparência da floresta e o efeito sobre os ciclos de água e de carbono – medidos através de torres de fluxo.

A mudança do espaço após o fogo também muda a estratégia das árvores no uso dos recursos naturais. Em vez de conservar água, as espécies passam a usar todo o recurso que existe ao redor para crescer – a uma taxa de até 2 metros por ano.

Além de consumir a água do solo, levando-a para a atmosfera, o processo de crescimento também estoca no tronco e nas folhas das árvores o carbono que estava no ar.

O crescimento de novas espécies pioneiras, como as lavráceas, faz com que em apenas sete anos a área volte a ciclar água e carbono nos mesmos níveis anteriores ao fogo. As protagonistas da rápida recuperação surgem após a perda de grandes árvores, em um espaço que passa a ser dominado por gramíneas.

O monitoramento já tinha constatado, em 2007, que as grandes árvores sobreviventes ao incêndios sofriam uma degradação continuada e acabavam morrendo por conta da perda de sombra de outras árvores, a ação do vento e mesmo a diminuição dos processos de evapotranspiração, encerrados com a perda das folhas.

“A surpresa foi que, quando deixamos que se recupere, a floresta logo passa a prover serviços climáticos, bombeando para a atmosfera uma quantidade de água comparável a uma floresta intacta”, diz Paulo Brando, pesquisador do Ipam.

“As florestas evoluíram para lidar com choques e têm capacidade gigantesca de se regenerar e voltar a prover serviços importantes, se não voltarem a sofrer outros estresses. Temos que deixá-las lá”, diz Brando.

No entanto, o novo cenário após o fogo tem espécies invasoras, perda de biodiversidade e de significativos estoques de carbono das grandes árvores. “Não é uma floresta resiliente, é uma degradação continuada”, ressalva o pesquisador.

O experimento controlado usou fogo baixo, a uma altura de 40 cm, com velocidade de 20 metros por hora. Ele simula o efeito de incêndios criminosos ou queimadas que escapam do controle e aconteceu em uma fazenda no Mato Grosso.