Brasil entra no ‘cheque especial’ de recursos naturais nesta quarta

A conta não fecha, cada vez mais cedo. O Brasil e o mundo já consumiram no final de julho a quantidade de recursos naturais que a Terra conseguiria repor ao longo de 2019.

Até o fim do ano, operamos no vermelho ao continuar explorando recursos em velocidade superior à da produção biológica no mesmo período. A diferença entre os ritmos de consumo humano e de regeneração natural marca o dia de sobrecarga da Terra.

No Brasil, o cheque especial começa nesta quarta (29) e não se deve a aumento do consumo, mas à redução na capacidade de regeneração natural.

O cálculo da pegada ecológica per capita, medida em hectares, teve pouca variação no Brasil desde 1980, ficando entre 3,1 e 2,8 hectares até 2016. No mesmo período, a biocapacidade per capita despencou de 14,5 para 8,7 hectares.

O cálculo, feito pela organização estadunidense Global Footprint Network, pode ser visto como um orçamento anual de recursos naturais.

Nele, a receita é calculada pela biocapacidade, ou seja, a quantidade de áreas naturais (chamadas de “áreas biologicamente produtivas” no estudo) disponíveis por habitante.

Já a despesa é calculada pela pegada ecológica, termo que alude ao rastro do impacto do consumo sobre o território. O cálculo mede em hectares a quantidade de terra demandada pelo consumo per capita.

O Brasil fica em 1º lugar no ranking dos países com maior biocapacidade total, mas em 17º em biocapacidade per capita, quando o tamanho da população entra na conta.

No ranking da pegada ecológica, feita com dados de 2016, o Brasil ocupa a 5ª posição, atrás apenas de China, Estados Unidos, Rússia e Índia. Já na pegada ecológica per capita, a posição brasileira cai para 89ª.

Aceleração

Na média mundial, o dia de sobrecarga neste ano chegou no último dia 29, apenas dois dias antes da média brasileira.

Em 1973, a sobrecarga chegava no início de dezembro. Chegou no início de outubro em 1997, avançou para setembro em 2007. É a primeira vez que a sobrecarga chega tão cedo, já em julho.

No fim de março, oito países já tinham entrado no cheque especial, incluindo os Estados Unidos, a Dinamarca e a Austrália. Em dezembro, os últimos países a esgotarem suas cota de recursos naturais disponíveis para 2019 serão Nicarágua, Equador, Iraque e Indonésia.

Quantos planetas seriam necessários?

Se todo o mundo adotasse o padrão de consumo brasileiro, precisaríamos de 1,7 planetas Terra para dar conta de suprir a demanda, segundo ranking feito pela mesma pesquisa.

O Brasil fica próximo da média mundial de consumo, que exigiria 1,75 planetas. O padrão de consumo alemão exigiria a existência de 3 planetas e o chinês, 2.2.

Entre os países que estão com o saldo positivo, ou seja, mantêm uma biocapacidade superior ao consumo da população, aparecem países de pequena população ou com significativas reservas naturais, mas também nações com grande desigualdade social, como a Índia, cujo padrão de consumo exigiria apenas 0,7 planeta.