Com Greta Thunberg, jovens enviam ‘lições aos adultos’ na greve pelo clima em Nova York
NOVA YORK A cidade de Nova York puxou uma das maiores greves pelo clima do mundo nesta sexta, com a participação da ativista sueca Greta Thunberg, que criou as greves estudantis pelo clima. Segundo organizadores, o protesto reuniu cerca de 250 mil pessoas.
Saindo da praça Foley Square, a marcha seguiu para um palco montado em um parque – o Battery Park – onde Greta discursou brevemente para uma multidão. Ela reforçou a mensagem de que os jovens estão deixando de ir à escola porque não faria sentido se preparar para um futuro que está ameaçado.
Greta também comentou que celebridades e políticos a procuram para ‘selfies’, para fotos e palavras bonitas. “Venho de um lugar muito diferente daqui, mas aqui e em todo lugar os discursos são os mesmos e a inação é a mesma. Nós não tomamos as ruas para que adultos digam que nos admiram. Estamos fazendo isso para que eles ajam.”
“Os olhos do mundo estarão nos líderes globais na segunda-feira, na cúpula do clima da ONU. Eles terão uma chance de provar que também apoiam a Ciência e que nos escutam. Nós faremos com que nos escutem”, afirmou.
Mostrando entusiasmo, um grupo de adolescentes conta ao blog que se sentem representados pelas palavras de Greta. “Ela nunca fala ‘eu’, sempre fala ‘nós'”, diz Sebastian Arce, de 13 anos.
“Ela é só dois anos mais velha que a gente e já fez mais do que a maioria dos adultos”, diz Reina Nakai, 13. “Eu nunca vi pessoas no poder agir como ela está fazendo e isso é muito legal”, diz Aims Smit, 13. “Ouvi-la realmente empodera todos nós, jovens ativistas”, diz Stella Ortega, 13.
As mensagens que a estudante sueca vem repetindo no último ano repercutiram nos cartazes levados à marcha. “Escapamos da classe para lhes dar uma lição” foi uma das frases que aparecia frequentemente nos cartazes, assim como “se vocês estivesse fazendo seu trabalho, nós estaríamos na escola”.
Cerca de 1,1 milhão de estudantes das escolas públicas de Nova York foram dispensados da aula para participar da marcha. Além da predominância de estudantes entre 12 a 17 anos, jovens de diversos países também integram o protesto, que acontece a apenas três dias da Cúpula do Clima da ONU, convocada pelo secretário-geral da ONU para a próxima segunda-feira (23) também em Nova York.
Cartazes pela Amazônia foram levados por jovens dos Estados Unidos e também de países latinoamericanos, como Colômbia, Equador e Brasil.
“Estou preocupada, porque parece que as pessoas estão ficando mais ignorantes”, diz Keyra S., 16. Nascida nos Estados Unidos e filha de equatorianos, ela explica que faz uma piada com o capitalismo em seu cartaz ao escrever que “estão queimando a Amazon errada”.
O brasileiro Danilo Ignacio, 30, segura o cartaz contra o desmatamento na Amazônia. O engenheiro florestal está em Nova York para discutir com jovens soluções para a crise climática a partir de exemplos retirados da própria natureza. “Não é só um movimento simbólico. A juventude tem demonstrado ações concretas em diferentes partes do mundo”, ele diz.
“As crianças no Brasil também estão preocupadas, certo? Elas foram para a greve?” As perguntas são disparadas por uma menina de 13 anos ao saber que a entrevista é para uma mídia brasileira. A mãe dela, quem preferiu que seus nomes não fossem publicados, conta que a filha lhe questiona sobre a Amazônia. “Ela está tentando entender o que acontece com o Brasil”, diz a mãe.
O grupo tem mais 14 adolescentes e é acompanhado por outras duas mães. Elas contam que foram ‘arrastadas’ pelas crianças. “Minha filha me obrigou a vir. Nunca fui ativista, esse é meu primeiro protesto”, diz Talya Moore, 42.
“Pensamos em fazer cartazes engraçados, porque achamos que precisa ter humor para as pessoas pensarem melhor”, diz uma adolescente. As piadas e o estilo que lembra memes das redes sociais destacam os cartazes dos jovens e marcam sua autoria.
Centenas de pais também aproveitam para levar filhos pequenos e até bebês ao protesto, também com mensagens comoventes.
*A jornalista viajou a convite da Anistia Internacional e do Instituto Clima e Sociedade (ICS).