Da plateia, Salles toma notas em evento pela Amazônia em Nova York

NOVA YORK O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pediu para participar de um evento convocado pelo cofundador da Natura, Guilherme Leal, para discutir compromissos que o setor privado brasileiro poderia assumir para a conservação da Amazônia.

O ministro ficou na plateia e tomou notas durante o evento, que teve o palco dividido por representantes do agronegócio, da academia, da sociedade civil, e de empresas do Sistema B, rede internacional de negócios com compromisso socioambiental.

Convidado a falar ao final do evento, o ministro subiu à beirada do palco e se limitou a fazer referência às falas dos participantes, sem anunciar compromissos do ministério. Durante sua breve intervenção, alguns participantes se retiraram da sala e jovens da ONG Engajamundo protestaram na entrada do evento (foto).

“Vamos salvar a Monalisa”, disse em referência a uma fala do debate, segundo a qual o Brasil estaria queimando sua Monalisa. “Soluções complicadas, demoradas, não têm chance de vingar. Temos que colocar soluções simples”, acrescentou.

Sob o título “Amazônia possível”, o evento aconteceu na sede da ONU em Nova York neste domingo (22) e buscou reforçar a conciliação entre os potenciais econômico e ambiental da Amazônia.

Salles confirmou que pediu para participar do evento, porque o considerou alinhado com as soluções de viés econômico que o ministério tem defendido.

“Decidimos em Washington, com o BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento], fazer um evento no Pará para discutir a bioeconomia junto ao setor privado, então tem tudo a ver”, disse o ministro após o evento.

Já o objetivo de Guilherme Leal é reunir o setor privado em torno de compromissos que possam ser apresentados na COP-25 do Clima, que acontece no Chile em dezembro. O momento foi escolhido, segundo ele, por chamar a atenção da comunidade internacional.

“O setor privado tem um papel fundamental de investir e gerenciar atividades que gerem uma prosperidade compartilhada na Amazônia”, disse o empresário. Ainda não se sabe, no entanto, quais serão as diretrizes ou o formato do trabalho que será construído até lá.

Embora o evento não tenha discutido o papel do poder público para conter a degradação da Amazônia, outros representantes políticos também compareceram, incluindo os deputados federais Tabata Amaral (PDT-SP) e Túlio Gadêlha (PDT-PE) e o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC).

“Temos uma responsabilidade perante o mundo e, sobretudo, perante o cidadão”, afirmou o governador, que também ficou na plateia do evento.

“Não há ninguém mais interessado em proteger a Amazônia do que quem mora lá. Mas nossa floresta é baseada numa lógica econômica: se você não tiver como garantir sustento para sua família, você vai derrubar uma árvore”, acrescentou.

O cineasta Fernando Meirelles foi um dos participantes no palco do debate e se adiantou em sugerir compromissos concretos para as empresas, como o rastreamento das cadeias produtivas para evitar ligações com desmatamento ilegal.

“Mas tem que marcar uma reunião já para a próxima quinta-feira”, falou em tom de brincadeira. Ainda assim, a sugestão de data foi acolhida e está prevista pelos organizadores para início do trabalho de convocação das empresas.

“O ponto de virada foi agosto. Mas, no futuro, vamos olhar para esse mês e falar ‘opa, foi ali que a sociedade se reconstruiu e, a partir dali, surgiu um novo Brasil”, disse Marcelo Brito, presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) e diretor da empresa Agropalma.

Também participaram do debate a diretora global de sustentabilidade da Natura, Denise Hills, o climatologista Carlos Nobre, a diretora-executiva do Sistema B, Halla Tomasdottir, e o coordenador da Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, André Guimarães.

*A jornalista viajou a convite da Anistia Internacional e do Instituto Clima e Sociedade (ICS).