Ministro sabe por que fontes do Ibama são preservadas em reportagem

OPINIÃO – O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, conhece o motivo pelo qual as fontes são preservadas na reportagem ‘Governo não convocou técnicos especialistas em óleo do Ibama‘.
A matéria revelou que o setor de licenciamento ambiental de óleo e gás, apesar da experiência em planos de emergência contra vazamento de óleo, não foi acionado pelo Ministério do Meio Ambiente.
Em vez de responder aos fatos revelados pela Folha, o ministro escolheu colocar o conteúdo sob suspeita. “Essas versões são sempre o jornalista que escreve. Quando eles apresentarem a fonte a gente pode contestar”, disse Salles em entrevista à rádio Jovem Pan, que citou a matéria para questioná-lo nesta sexta-feira (1).
Ao levantar dúvida sobre a veracidade da informação – facilmente averiguável pelo comandante da pasta – o ministro não só se esquiva de prestar contas, como também dissimula o motivo da preservação das fontes na reportagem.
A pasta comandada por Salles havia proibido ainda em março a comunicação do Ibama e do ICMBio e centralizado no ministério os pedidos de informação da imprensa.
A emergência por conta do óleo nas praias do Nordeste não motivou uma exceção à lei da mordaça. Pelo contrário, o ministério reforçou internamente a validade da medida, após técnicos que atuavam na contenção do óleo e a assessoria de imprensa do Ibama terem feito comunicações diretas com a imprensa e a população local no início das operações de resposta, dando orientações sobre como lidar com a emergência.
A pasta ignora as sucessivas notas da Asibama, a associação de servidores do Ibama, que apontam a necessidade de comunicação direta com a população sobre a emergência.
“Em qualquer incidente de grandes proporções é imprescindível o estabelecimento de efetivos canais de comunicação e a divulgação sistemática de informações atualizadas sobre o evento”, diz nota da Asibama-RJ publicada nesta quinta (31).
Além de atrapalhar a comunicação da emergência, a lei da mordaça imposta pela gestão de Salles também reforça o clima de perseguição a servidores da pasta – com diversos exemplos ao longo do ano, lembrados ao fim deste texto.
Neste contexto, sugerir a apresentação de fontes como condição para sua resposta pode soar como ameaça aos servidores que se prestam a revelar informação de interesse público. Por outro lado, está na mão do ministro garantir a liberdade das fontes do seu ministério, garantindo uma ambiência democrática.
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