‘Estão tentando nos silenciar’, diz Greta Thunberg sobre ataques
MADRI (Espanha) “Algumas pessoas querem manter o status quo, querem que sigam tudo como está agora. Por isso, estão tentando nos silenciar”, disse Greta Thunberg nesta sexta-feira (06), ao chegar em Madri para mais uma marcha do clima com jovens de todo o mundo, reunidos para a COP-25 do Clima.
“Isso é uma prova que nossas vozes estão sendo escutadas e que estamos tendo impacto”, ela continua, ao ser questionada sobre os ataques que passou a receber neste ano, especialmente após seu discurso na cúpula do clima da ONU em setembro, quando fez um de seus discursos mais marcantes.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi um dos que atacou Greta nas redes após seu discurso, no final de setembro. Ele usou uma montagem que mostrava a ativista se alimentando em um trem enquanto crianças aparentemente pobres apareciam na janela do veículo e a acusou de ser financiada pelo magnata George Soros. O deputado admitiu depois saber que se tratava de uma montagem.
Em uma coletiva de imprensa com mais de 400 veículos credenciados, Greta dividiu o palco com mais três jovens do movimento Fridays for Future (Vanessa Nakate, da Uganda e os espanhóis Shari Crespi e Alejandro Martinez), para quem insistiu em dividir a palavra após responder a cada pergunta – todas dirigidas a ela.
Na avaliação de Greta, o movimento das greves pelo clima, que ela iniciou há um ano em meio, “conseguiu muito ao conscientizar a opinião pública. Mas isso nem de longe é suficiente. As emissões de carbono não estão reduzindo, estão aumentando”.
“Não podemos considerar uma vitória [a conscientização], porque a única coisa que queremos ver é ação real e isso não tem acontecido. Então, dessa perspectiva, não conseguimos nada”, conclui.
Apesar de comunicar urgência em seus discursos, Greta mostrou ter ciência sobre a limitação no alcance de resultados na COP-25. “Para aqueles que não vieram, a COP-25 é um tipo de ano intermediário. O importante é a COP-26 no ano que vem, mas não podemos descansar enquanto isso”, disse.
Enquanto a COP-25 se destina a aparar arestas da regulamentação do Acordo de Paris, para a COP-26 há a expectativa de que os países atualizem seus compromissos no acordo com metas mais ambiciosas.
“Eu sinceramente espero que COP-25 vai produzir algo concreto que também leve a um aumento da consciência. O mundo precisa que as pessoas no poder ganhem consciência. Por enquanto parece que eles não a têm.”
Os quatro jovens lembraram que a crise climática também é uma crise política e comunicaram solidariedade aos manifestantes no Chile, cujos protestos impediram a realização da COP no país neste ano.
Para Shari Crespi, do movimento Fridays for Future na Espanha, “todas as crises têm o colonialismo como causa de fundo. Não há justiça climática sem justiça social”.
*A jornalista viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade (ICS).