Por Bolsonaro, Brasil leva prêmio Fóssil do Ano pela primeira vez na COP do Clima
MADRI O Brasil ganhou nesta sexta-feira (13) o prêmio Fóssil do Ano, como “país que mais atrapalhou o clima em 2019”.
A premiação aconteceu no final da COP-25, conferência da ONU sobre mudanças climáticas. É a primeira vez que o país leva o prêmio em referência às suas ações ao longo de todo o ano.
O prêmio acusa o governo Bolsonaro de ter desmontado as políticas ambientais que levaram às reduções de emissões do país, enquanto criminaliza ambientalista. Também aponta o aumento nas taxas de desmatamento, nas invasões de terras o assassinato de três lideranças indígenas apenas nesta semana no texto que justifica a escolha do país para o troféu.
O Brasil já tinha vencido o Fóssil do Dia ainda no início da COP-25, junto a Austrália e Japão, e voltou a ser ‘premiado’ na última terça (17), quando o governo Bolsonaro publicou a MP da regularização fundiária, criticada por ambientalistas por facilitar a grilagem de terras e o desmatamento.
A organizadora da premiação é uma rede que representa mais de 1.000 ONGs ambientalistas no mundo, a CAN (Rede de Ação Climática, na sigla em inglês).
O prêmio, já tradicional nas COPs do clima, sinaliza a percepção das organizações ambientalistas de todo o mundo sobre os países, julgando tanto suas posturas nas negociações como suas políticas domésticas.
Com a marca inédita de três troféus em uma COP, o Brasil sofre mudança radical na sua imagem para as ONGs brasileiras e internacionais.
“Que diferença um ano faz. Berço da Convenção do Clima da ONU e amplamente elogiado por cortes impressionantes em suas emissões na última década, o Brasil se tornou um pária climático”, diz o texto da CAN, que justifica a ‘vitória’ do Brasil na premiação.
Confira abaixo a íntegra do texto lido na entrega do prêmio Fóssil do Ano ao Brasil.
Que diferença um ano faz. Berço da Convenção do Clima da ONU e amplamente elogiado por cortes impressionantes em suas emissões na última década, o Brasil se tornou um pária climático.
Onze meses após o início do governo de Jair Bolsonaro, o país se juntou aos Estados Unidos como uma das maiores ameaças ao Acordo de Paris – e ao planeta.
Bolsonaro, autointitulado “Capitão Motosserra”, conseguiu desmontar as políticas ambientais que ajudaram o Brasil a conseguir reduções espetaculares de emissões entre 2005 e 2012.
Os resultados disso foram as maiores taxas de desmatamento na Amazônia em uma década, um salto nas invasões de terras e o assassinato de três lideranças indígenas apenas nesta semana. O governo também está criminalizando ambientalistas – que Bolsonaro notoriamente culpou pelos incêndios na floresta.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, um negacionista do clima, chefiou a delegação brasileira na COP25, amordaçando diplomatas e tentando chantagear países ricos a lhe dar dinheiro em troca do aumento da destruição da Amazônia. Isso, é claro, não funcionou, então Salles começou a criticar a própria NDC de seu país, chamando-a de “caridade com chapéu alheio”.
O cenário de terra arrasada doméstico teve efeitos em Madri. O Brasil apresentou alguns comportamentos bizarros, como o de bloquear a menção a direitos humanos no artigo 6.4 e opor-se à menção a “emergência climática” na decisão da COP. E alguns comportamentos tradicionais, como insistir em regras frouxas de contabilidade no artigo 6.4 e inundar o mercado com créditos podres do Protocolo de Kyoto para agradar a antigos lobbies que, ao contrário da sociedade civil, não deixaram de receber crachás oficiais para vir a Madri.
Jair Bolsonaro é uma bomba de carbono ambulante que sem dúvida merece esse grande reconhecimento, o Fóssil Colossal.
*A jornalista viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade (ICS).