Emissões de carbono no mundo caíram 17% durante pico do confinamento
A queda nas emissões de carbono e outros gases de efeito-estufa, que aumentam o aquecimento global, foi de 17% na primeira semana de abril, quando as regiões do mundo responsáveis por 89% das emissões globais de CO2 estavam sob algum nível de confinamento.
A conclusão é de um estudo da Universidade de East Anglia (Inglaterra) publicado nesta terça (18) na revista científica Nature Climate Change.
A pesquisa estimou as mudanças nas emissões diárias de carbono e gases-estufa entre janeiro e abril, conforme os níveis de confinamento da população, para seis setores econômicos: residencial, geração de energia, transporte de superfície, indústria, prédios públicos e comércio e aviação.
A maior queda vem do setor de transporte de superfície (principalmente por veículos automotores), que reduziu suas emissões em 43%. O setor é responsável por 20% das emissões globais.
As emissões somadas dos setores de energia e indústria também resultam em uma queda de 43% das emissões. No mundo, a geração de energia responde por 44,3% das emissões de gases causadores do aquecimento global, enquanto o setor industrial é responsável por 22,4% das emissões.
A aviação é o setor mais impactado pelo confinamento, com redução de 70% nas emissões. No entanto, sua parcela de responsabilidade é de apenas 3% das emissões globais. Por isso, o setor corresponde a 10% da redução nas emissões globais durante a pandemia.
O setor residencial, que responde por 5% das emissões globais, foi o único com alta de emissões no período: 5.6%, devido ao aumento do consumo de energia nas residências durante o confinamento.
O estudo estima que o confinamento pode representar uma redução de 4% nas emissões globais de carbono em 2020 caso as medidas de isolamento durem até a metade de junho.
Se algumas restrições persistirem até o final de 2020, a redução nas emissões pode chegar até 7% para este ano – uma taxa, que, se for mantida anualmente, levaria o mundo a cumprir as metas do Acordo de Paris.
Em um cenário intermediário, caso as emissões retornem para os cenários pré-pandemia na segunda metade do ano, o estudo projeta ainda uma redução de 5% nas emissões de carbono em 2020. A gama completa de projeções para 2020, incluindo incertezas, é de uma redução de 2% a 13%.
De acordo com o relatório do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) sobre o orçamento de emissões globais, o Emissions Gap Report, o mundo deve reduzir ao menos 2,7% das emissões de gases-estufa a cada ano para garantir um teto de 2ºC no aquecimento global, ou então reduzir 7,6% ao ano para garantir um aquecimento inferior a 1,5ºC – limite para se prevenir o desaparecimento de países-ilhas.
Os autores do estudo lembram que a crise econômica global de 2008 levou a uma redução de 1,5% nas emissões em 2009 seguida de uma recuperação econômica que fez as emissões subirem em 5,1% em 2010.
Para que a queda temporária nas emissões seja refletida em mudanças estruturais, os pesquisadores recomendam que os formuladores de políticas públicas considerem estratégias de baixo carbono para a recuperação econômica.
O setor dos transportes, que teve a maior queda nas emissões durante a pandemia, também pode alavancar uma recuperação econômica de baixo carbono.
Entre as recomendações dos autores, estão um planejamento urbano que privilegie a mobilidade e dê mais espaço para pedestres e bicicletas; a priorização de fontes de energia limpas e veículos elétricos; e ainda algumas medidas testadas durante o confinamento, como o incentivo ao ‘home office’ e a substituição de viagens de negócios por teleconferências.
Para estimar as emissões durante a pandemia, o estudo analisou as políticas governamentais de confinamento em 69 países que representam juntos 97% das emissões globais de CO2.
As políticas foram divididas em três níveis de restrição: o primeiro apenas evita aglomerações e viagens de longas distâncias; o segundo restringe uma cidade ou região inteira, atingindo pelo menos metade da população; e o terceiro faz o chamado ‘lockdown’, o fechamento total de uma região, mantendo apenas atividades essenciais.
A partir das políticas de confinamento, os pesquisadores compararam a diminuição das atividades de seis setores econômicos com dados-padrão de mobilidade e congestionamento, uso de eletricidade e produção industrial dos países, estimando a queda das emissões decorrentes da diminuição do movimento nesses setores.
No caso brasileiro, o estudo aponta uma queda de 25,2% nas emissões de carbono devido às reduções nos setores econômicos ligados às cidades.
Entretanto, a maior fonte de emissões de gases-estufa no Brasil vem principalmente do desmatamento, queimadas e da criação de gado. Os setores florestal e agropecuário responderam juntos por 69% das emissões do país em 2018, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima.
O desmatamento na Amazônia tem subido durante a pandemia. Segundo o monitoramento por satélite da ONG Imazon, o desmate em abril foi de 529 km2 – o maior da última década para o mês de abril. Já o sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou alta de 55% entre janeiro e abril em relação ao início do ano passado.
Com isso, a previsão é que a temporada de seca na Amazônia, entre maio e setembro, tenha mais queimadas que o ano passado, aumentando também as emissões brasileiras em 2020.