Banco do Brasil é o maior credor de setores que desmatam no país, diz estudo

“O Banco do Brasil é, de longe, o maior credor de empresas com risco de desmatamento no país, tendo fornecido US$ 30 bilhões (R$ 165 bilhões) a elas desde 2016, especialmente às indústrias de carne bovina e soja”. A conclusão é de um levantamento da coalizão internacional Forests and Finance divulgado nesta terça (1º).

Entre os cinco maiores credores do Brasil estão o Bradesco, com US$ 7,5 bilhões (R$ 41,25 bilhões); o holandês Rabobank, com US$ 5,4 bilhões (R$ 29,7 bilhões); o estadunidense JPMorgan Chase, com US$ 5,2 bilhões (R$ 28,6 bilhões); e o espanhol Santander, com US$ 4,5 bilhões (R$ 24,75 bilhões).

A coalizão – que reúne organizações como Rainforest Action Network, Profundo, Repórter Brasil, Amazon Watch e BankTrack – mapeou fluxos financeiros entre janeiro de 2013 e abril de 2020 de cerca de 300 grandes empresas do setor commodities com risco de desmatamento no Brasil, no sul da Ásia – onde 82% do desmatamento é movido pela produção de óleo de palma – e na África central e ocidental, onde a borracha tem sido o principal motor da destruição de florestas tropicais.

No caso brasileiro, o levantamento identificou as maiores empresas dos setores da soja, de papel e celulose e também da carne bovina, que foi o maior recebedor de crédito de 2013 para cá, com US$ 41 bilhões (R$ 225,5 bilhões).

A pesquisa sobre os empréstimos, assim como investimentos em dívidas e ações, foi feita a partir de relatórios das empresas, bases de dados financeiras e também pelo portal da transparência do BNDES e do Banco Central do Brasil.

O estudo aponta relação de financiadores com setores de alto risco de desmatamento (e não com a ocorrência de desmatamento).

“Não dá pra dizer que não há desmatamento. O banco não pode garantir isso”, afirma a coordenadora da coalizão, Merel van der Mark.

Ela diz que um dos objetivos da base de dados é mostrar a falta de transparência e de rastreabilidade em cadeias produtivas como a da carne bovina, o que impede a garantia de uma produção livre de desmatamento.

Mas a publicação dos dados também visa a aumentar a transparência, permitindo a consulta de informações difíceis de serem obtidas.

Questionada se os bancos têm acesso a informações suficientes para aplicar critérios socioambientais sobre a concessão de créditos, a pesquisadora afirmou que “eles têm a condição de exigi-las dos seus clientes”.

“Se o setor financeiro não fizer essa exigência, não há motivo para as empresas começarem a se mexer”, completou.

O levantamento detectou um aumento de 40% no financiamento de commodities ligadas a desmatamento desde 2015, quando foi assinado o Acordo de Paris de combate às mudanças climáticas. O desmatamento é o maior emissor de gases causadores do aquecimento global no Brasil.

De 2015 para cá, bancos globais destinaram US$ 154 bilhões (R$ 847 bilhões) para os setores com risco de desmatamento de florestas tropicais. Apenas 15 bancos concentram 60% desse financiamento – oito deles são signatários dos Princípios para Responsabilidade Bancária da ONU.

O blog questionou os cinco bancos que mais concedem crédito a setores ligados a desmatamento no Brasil.

Com exceção do estadunidense JPMorgan and Chase, que preferiu não comentar, os bancos afirmaram, através de nota, que incluem critérios de riscos socioambientais na análise de concessão de créditos e têm políticas específicas sobre desmatamento.

“Empréstimos na modalidade crédito rural no bioma Amazônia são concedidos somente após auditoria presencial que ateste a regularidade ambiental da propriedade”, disse o Bradesco.

“Quando verificado que há alguma ilegalidade, o banco tem o poder contratual para declarar o vencimento antecipado da dívida e exigir seu pagamento”, disse o espanhol Santander.

Já o holandês Rabobank afirmou que “para clientes com problemas de sustentabilidade, o apoio é reforçado e reportado no relatório anual”.

“Acreditamos que, com um engajamento positivo e influência na política do cliente, conseguimos ir além na solução dos problemas do que simplesmente excluindo esses clientes da nossa carteira”, justificou.

O Banco do Brasil afirmou ser referência em crédito rural sustentável e que é ainda, segundo ranking da Corporate Knights, “a empresa financeira mais sustentável do mundo”.

O estudo recomenda que instituições reguladoras, como os bancos centrais, criem um mecanismo de “supervisão regulatória mais forte do setor financeiro”, incluindo o monitoramento transparente das políticas de ESG (critérios ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês), prevendo penalidades em caso de descumprimento.