Dalai Lama e 100 vencedores do Nobel pedem fim do petróleo, carvão e gás

Em carta aberta aos líderes globais que se reúnem na quinta (22) na Cúpula do Clima, organizada de forma online pelos Estados Unidos, 101 ganhadores de prêmios Nobel pedem que os compromissos anunciados pelos países incluam ações para o fim da expansão dos combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás, que são a principal fonte de gases causadores do aquecimento global.

Entre os signatários da carta estão Dalai Lama, ganhador do Nobel da Paz em 1989, Muhammad Yunus, fundador do Grameen Bank e ganhador do Nobel da Paz em 2006, Rigoberta Menchú Tum, ativista pelos direitos humanos na Guatemala e ganhadora do Nobel da Paz em 1992, e Adolfo Pérez Esquivel, ativista argentino pelos direitos humanos e ganhador do Nobel da Paz em 1980.

“A indústria de combustíveis fósseis segue planejando novos projetos, que os bancos continuam a financiar. De acordo com o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, até 2030 serão produzidos 120% a mais de carvão, petróleo e gás do que é compatível com a limitação do aquecimento global a 1,5°C”, diz a carta, que pede o fim da expansão dos combustíveis fósseis, a eliminação da produção existente e um plano de transição global para energias renováveis.

As assinaturas dos prêmios Nobel foram articuladas pela iniciativa Tratado de Não-Proliferação de Combustíveis Fósseis, com o apoio de 350.org e outras ONGs.

Leia abaixo a íntegra da carta.

Declaração dos ganhadores do Prêmio Nobel aos líderes mundiais participantes da Cúpula do Clima

Deixem os combustíveis fósseis debaixo da terra

Como ganhadores do Prêmio Nobel da Paz, Literatura, Medicina, Física e Economia, e assim como tantas pessoas no mundo inteiro, nos sentimos tomados pela grande questão moral do nosso tempo: a crise climática e a consequente destruição da natureza.

As mudanças climáticas ameaçam centenas de milhões de vidas, assim como os meios de subsistência em todos os continentes, e põem em perigo milhares de espécies. A queima de combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás – é, de longe, a principal causa para a mudança climática.

Neste 21 de abril, véspera do Dia da Terra e da Cúpula do Clima, organizada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nos dirigimos aos líderes mundiais para instá-los a agir imediatamente para frear a expansão do petróleo, gás e carvão e, assim, evitar uma catástrofe climática.

Acolhemos o reconhecimento do Presidente Biden e do governo dos EUA, em sua Ordem Executiva, de que “juntos, devemos ouvir a ciência e estar à altura do atual momento”. De fato, estar à altura deste momento significa exigir respostas à crise climática que definirão nossos legados – e os requisitos para estar do lado certo da História são claros.

Por muito tempo, os governos ficaram escandalosamente aquém do que a ciência exige e do que um movimento popular poderoso e crescente já sabe: precisamos urgentemente de ações para pôr fim à expansão da produção de combustíveis fósseis, eliminar gradualmente a produção já instalada e investir em energias renováveis.

A queima de combustíveis fósseis é responsável por quase 80% das emissões de dióxido de carbono desde a Revolução Industrial. Além de esses combustíveis serem as principais fontes de emissões, seu processo de extração, refino, transporte e queima provoca poluição e eleva os custos ambientais e de saúde, que são, muitas vezes, pagos pelos povos indígenas e pelas comunidades marginalizadas. Práticas industriais chocantes também levaram a violações dos direitos humanos e a um sistema atrelado aos combustíveis fósseis que deixou bilhões de pessoas em todo o mundo sem energia suficiente para viver dignamente.

Tanto pelas pessoas quanto pelo planeta, é necessário apoiar continuamente os esforços para enfrentar as mudanças climáticas, por meio da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e do Acordo de Paris. O descumprimento do limite de aumento de temperatura definido no Acordo de Paris, de 1,5°C, traz o risco de que o mundo seja empurrado rumo a um aquecimento global catastrófico.

Entretanto, o Acordo de Paris não menciona petróleo, gás ou carvão. Enquanto isso, a indústria de combustíveis fósseis segue planejando novos projetos, que os bancos continuam a financiar. De acordo com o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, até 2030 serão produzidos 120% a mais de carvão, petróleo e gás do que é compatível com a limitação do aquecimento global a 1,5°C. Os esforços para respeitar o Acordo de Paris e reduzir a demanda por combustíveis fósseis serão prejudicados se a oferta continuar a crescer.

A solução é clara: os combustíveis fósseis têm que ficar debaixo da terra.

Os líderes globais, e não a indústria de combustíveis fósseis, detêm o poder e a responsabilidade moral de tomar ações ousadas para enfrentar esta crise. Apelamos a essas lideranças para que trabalhem juntas, em espírito de cooperação, com o objetivo de:

● Acabar com a expansão da produção de petróleo, gás e carvão, em linha com os melhores dados científicos disponíveis, conforme definido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA);

● Eliminar a produção existente de petróleo, gás e carvão de uma maneira justa e equitativa, considerando as responsabilidades dos países pelas mudanças climáticas, sua respectiva dependência de combustíveis fósseis e sua capacidade de transição;

● Investir em um plano de transição que garanta 100% de acesso à energia renovável globalmente, apoie as economias dependentes para que diversifiquem sua produção e se afastem dos combustíveis fósseis e possibilite às pessoas e comunidades de todo o mundo prosperarem por meio de uma transição global justa.

Os combustíveis fósseis são a principal causa das mudanças climáticas. Permitir a expansão contínua desse setor é inaceitável. O sistema de combustíveis fósseis é global e requer uma solução global – uma solução em que a Cúpula dos Líderes do Clima deve trabalhar. E o primeiro passo consiste em manter os combustíveis fósseis debaixo da terra.

His Holiness the 14th Dalai Lama, Nobel Peace Prize, 1989
Jody Williams, International Campaign to Ban Landmines, Nobel Peace Prize, 1997
Juan Manuel Santos, Former President of Colombia, Nobel Peace Prize, 2016
Tawakkol Karman, Women Journalists Without Chains, Nobel Peace Prize, 2011
Mairead Corrigan-Maguire, Northern Ireland Peace Movement, Nobel Peace Prize, 1976
Adolfo Pérez Esquivel, Argentinian Human rights leader, Nobel Peace Prize, 1980
Rigoberta Menchú Tum, K’iche’ Guatemalan human rights activist, Nobel Peace Prize, 1992
José Manuel Ramos-Horta, Former President of East Timor, Nobel Peace Prize, 1996
Carlos Filipe Ximenes Belo, East Timorese Roman Catholic Bishop, Nobel Peace Prize, 1996
Shirin Ebadi, Iran first female judge, Nobel Peace Prize, 2003
Leymah Roberta Gbowee, Women of Liberia Mass Action for Peace, Nobel Peace Prize, 2011
Kailash Satyarthi, Bachpan Bachao Andolan, Nobel Peace Prize, 2014
Denis Mukwege, Founder, Panzi Hospital, Bukavu, Nobel Peace Prize, 2018
Muhammad Yunus, Founder of Grameen Bank, Nobel Peace Prize, 2006
Paul Berg, Nobel Prize in Chemistry, 1980
Thomas R. Cech, Nobel Prize in Chemistry, 1989
Martin Chalfie, Nobel Prize in Chemistry, 2008

Aaron Ciechanover, Nobel Prize in Chemistry, 2004
Richard R. Ernst, Nobel Prize in Chemistry, 1991
Joachim Frank, Nobel Prize in Chemistry, 2017
Walter Gilbert, Nobel Prize in Chemistry, 1980
Richard Henderson, Nobel Prize in Chemistry, 2017
Dudley R. Herschbach, Nobel Prize in Chemistry, 1986
Avram Hershko, Nobel Prize in Chemistry, 2004
Roald Hoffmann, Nobel Prize in Chemistry, 1981
Brian K. Kobilka, Nobel Prize in Chemistry, 2012
Roger D. Kornberg, Nobel Prize in Chemistry, 2006
Yuan T. Lee, Nobel Prize in Chemistry, 1986
Robert J. Lefkowitz, Nobel Prize in Chemistry, 2012
Michael Levitt, Nobel Prize in Chemistry, 2013
Rudolph A. Marcus, Nobel Prize in Chemistry, 1992
Hartmut Michel, Nobel Prize in Chemistry, 1988
George P. Smith, Nobel Prize in Chemistry, 2018
Sir James Fraser Stoddart, Nobel Prize in Chemistry, 2016
Frances H. Arnold, Nobel Prize in Chemistry, 2018
Johann Deisenhofer, Nobel Prize in Chemistry, 1988
Roderick MacKinnon, Nobel Prize in Chemistry, 2003
William E. Moerner, Nobel Prize in Chemistry, 2014
Richard R. Schrock, Nobel Prize in Chemistry, 2005
Sir John E. Walker, Nobel Prize in Chemistry, 1997
Kurt Wüthrich, Nobel Prize in Chemistry, 2002
Oliver Hart, Nobel Prize in Economic Sciences, 2016
Eric S. Maskin, Nobel Prize in Economic Sciences, 2007
Edmund S. Phelps, Nobel Prize in Economic Sciences, 2006
Robert F. Engle III, Nobel Prize in Economic Sciences, 2003
Paul R. Milgrom, Nobel Prize in Economic Sciences, 2020
Christopher A. Pissarides, Nobel Prize in Economic Sciences, 2010
Wole Soyinka, Nobel Prize in Literature, 1986
Elfriede Jelinek, Nobel Prize in Literature, 2005
Harvey J. Alter, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2020
Elizabeth H. Blackburn, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2009
Mario R. Capecchi, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2007
Peter C. Doherty, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 1996
Andrew Z. Fire, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2006
Carol W. Greider, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2009
Jeffrey Connor Hall, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2017
Leland H. Hartwell, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2001
Tim Hunt, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2001
Louis J. Ignarro, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 1998
Sir Richard J. Roberts, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 1993

Gregg L. Semenza, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2019
Thomas C. Sudhof, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2013
Jack W. Szostak, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2009
J. Robin Warren, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2005
Torsten N. Wiesel, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 1981
William C. Campbell, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2015
Harald zur Hausen, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2008
H. Robert Horvitz, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2002
William G. Kaelin Jr., Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2019
Eric R. Kandel, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2000
Edvard Moser, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2014
May-Britt Moser, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2014
John O’Keefe, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2014
Yoshinori Ohsumi, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2016
Charles M. Rice, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2020
Hamilton O. Smith, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 1978
Susumu Tonegawa, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 1987
Harold E. Varmus, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 1989
Michael W. Young, Nobel Prize in Physiology or Medicine, 2017
Serge Haroche, Nobel Prize in Physics, 2012
J. Michael Kosterlitz, Nobel Prize in Physics, 2016
Anthony J. Leggett, Nobel Prize in Physics, 2013
Shuji Nakamura, Nobel Prize in Physics, 2014
H. David Politzer, Nobel Prize in Physics, 2004
Rainer Weiss, Nobel Prize in Physics, 2017
Robert Woodrow Wilson, Nobel Prize in Physics, 1978
David J. Wineland, Nobel Prize in Physics, 2012
Hiroshi Amano, Nobel Prize in Physics, 2014
Barry Clark Barish, Nobel Prize in Physics, 2017
Jerome I. Friedman, Nobel Prize in Physics, 1990
Sheldon Glashow, Nobel Prize in Physics, 1979
Brian D. Josephson, Nobel Prize in Physics, 1973
Takaaki Kajita, Nobel Prize in Physics, 2015
Wolfgang Ketterle, Nobel Prize in Physics, 2001
John C. Mather, Nobel Prize in Physics, 2006
Michel Mayor, Nobel Prize in Physics, 2019
Arthur B. McDonald, Nobel Prize in Physics, 2015
Arno Penzias, Nobel Prize in Physics, 1978
Horst L. Stormer, Nobel Prize in Physics, 1998
Joseph H. Taylor Jr., Nobel Prize in Physics, 1993
Carl E. Wieman, Nobel Prize in Physics, 2001